São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Lula está só
JOSÉ CARLOS ALELUIA
Matérias importantes, como a Lei de Falências, a Lei de Biossegurança e a correção da tabela do Imposto de Renda, de interesse da sociedade, aguardaram na fila a boa vontade da base do governo para serem votadas. Não é só o Legislativo que a administração do PT paralisou. Até hoje, passados dois anos da posse deste governo, os programas sociais não saíram do papel. Os destaques da área social, noticiados pela imprensa, têm sido a falta de sintonia, a inépcia gerencial, a carência de realizações e, principalmente, as trombadas entre os responsáveis pela implantação dos programas. Não foi por acaso que o PT perdeu a eleição em Guaribas, cidade do Estado do Piauí escolhida para ser a vitrine do Fome Zero. Ao desastre administrativo acrescentem-se as alianças políticas suportadas unicamente no fisiologismo. A nação vê estarrecida a falta de cerimônia dos governistas. Cerimônia que chegou ao acinte de um líder da base que dá sustentação à gestão Lula anunciar que só votaria algo no Congresso após a liberação de verbas e outro líder afirmar que só aceitaria um ministério recheado de recursos e cargos. Os companheiros de Lula, hoje, são os adversários de dois, três, cinco anos atrás, e a essa troca de companhias o PT batizou "coalizão". O programa de governo para a economia é uma cópia desbotada daquele oferecido pela administração anterior. A novidade é justamente a falta de novidade. Não é outro o motivo que levou o PT à derrota no Rio, em São Paulo e na Região Sul. O eleitor está cada vez mais exigente e sabe muito bem a diferença entre o marketing da demagogia e as ações de governo que produzem resultados concretos. Vota cada vez mais com a razão e cada vez menos com a emoção. E espera que o governo cumpra a sua parte. Mas isso não vem acontecendo, por exemplo, na crise que contaminou as relações do Planalto com o Congresso. Esta é uma crise de confiança e, se hoje o governo está com água pelos tornozelos, é porque sua própria base de sustentação no Parlamento não confia nas promessas. Está levando ao pé da letra a máxima de São Tomé: ver para crer. O governo do PT precisa entender que crédito político é algo que se constrói ao longo de relações de mão dupla, com maturidade política e convivência democrática. A falta dos amigos e a solidão talvez levem o presidente Lula a refletir sobre as transformações dele e de seu governo num espaço tão curto de tempo. Ele ainda conta com pouco mais de um ano para arregaçar as mangas e trabalhar para cumprir pelo menos 10% das suas promessas de campanha, principalmente aquelas que seduziram os mais necessitados. E abandonar o viés autoritário, melhor caminho para o fracasso. Do contrário, a água que hoje está nos tornozelos chegará rapidamente à cintura, afogando o governo numa sucessão de crises, levando-o à paralisia e prejudicando imensamente o país. Por uma coincidência do destino, Lula vem seguindo a mesma receita dos ex-presidentes João Figueiredo e João Goulart, que, por motivos diferentes, foram lançados à solidão do poder pela incompetência de administrar crises e de manter uma relação de alto nível com o Congresso. Como Lula, eles optaram por residir na Granja do Torto, longe do burburinho da praça dos Três Poderes. João Goulart saiu do Torto para o exílio e Figueiredo mudou-se de lá para o Rio, pedindo que o povo o esquecesse. Torço sinceramente para que o presidente não tenha o mesmo destino e deixe o poder em janeiro de 2007 pela porta da frente do Palácio do Planalto. José Carlos Aleluia, 56, deputado federal pelo PFL-BA, é o líder do partido na Câmara. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Agnelo Queiroz: Acordos de cidadania Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|