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Mania de mudança
População rechaça 3º mandato e sugere a políticos que encerrem capítulo de reformas
no ciclo eleitoral
"PRIMEIRO o povo vai
dizer se quer ou não
a Constituinte. Se
quiser, a Constituinte é que vai dizer o que ela vai
votar." Com didatismo rudimentar, o deputado petista Mauricio
Rands (PE) quis tranqüilizar o
público sobre as intenções de seu
partido, que agora defende uma
assembléia exclusiva para modificar todo o sistema político-eleitoral a partir de um cheque em
branco assinado pelos eleitores.
O PT encontrou um modo matreiro de manter viva a centelha
do terceiro mandato para Luiz
Inácio Lula da Silva. A tática é tão
eficaz que permite aos dirigentes
petistas negar, e com ênfase "indignada", que persigam o objetivo continuísta. Mas, "se o povo
quiser" e a Constituinte decidir
votar o assunto...
Por esse e outros experimentalismos de petistas e pelos temores exaltados da oposição, o assunto da extensão do mandato
acabou entrando de soslaio na
pauta das discussões políticas e
assim permaneceu. O Datafolha
resolveu quebrar esse diálogo cifrado e perguntar diretamente
ao eleitor a sua opinião sobre o
terceiro mandato. A resposta,
eloqüente, deveria bastar para
enterrar de vez o assunto.
De cada 100 eleitores, 65 se declaram contrários à segunda reeleição para o presidente Lula.
Numa demonstração de maturidade, a grande maioria coloca em
universos distintos de valor o desempenho do governo -o de Lula apresenta popularidade elevada- e a necessidade de preservar
um pilar da democracia, que é a
alternância no poder.
Contra o mudancismo casuísta
que ainda ronda a política nacional, uma brisa no vendaval de
manipulações constitucionais
na América do Sul, a maioria dos
brasileiros antepõe um saudável
respeito às normas. Constituintes exclusivas, manobras plebiscitárias, extensão de mandatos,
alteração de ciclos eleitorais, fim
da reeleição. Há de tudo no mercado persa das "refundações"
das regras do jogo propostas pelas mais diversas forças representadas no Congresso.
Poucos, no entanto, se dispõem a defender a permanência
do "statu quo" na disputa pelo
poder. Por paradoxal que possa
parecer, essa agitação é um índice de adolescência democrática
dos partidos brasileiros. O regime se fortalece e se enraíza na
medida em que tais discussões
fundamentalistas desaparecem
da agenda das forças políticas
majoritárias. Quando isso ocorre, o jogo ganha previsibilidade e
o sistema se torna robusto o bastante para rechaçar aventuras
populistas e autoritárias.
É hora de dar por encerrado o
capítulo das grandes reformas
que envolvem ciclos eleitorais. O
apaziguamento dos partidos a
esse respeito é passo crucial para
que instituições mais específicas
da política, como a fidelidade
partidária e o sistema de voto,
possam ser aperfeiçoadas.
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