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ELIANE CANTANHÊDE
Sarna para se coçar
BRASÍLIA - O PT escolhe hoje o
seu novo presidente com um olho
no próprio umbigo e outro na Venezuela, onde se realiza o referendo
sobre as mudanças constitucionais
que, entre outras coisas, criam a
possibilidade de reeleições sucessivas para Hugo Chávez.
O fantasma do terceiro mandato,
portanto, estará rondando a votação no PT. Ele já assombra a Venezuela, com mandatos indefinidos, a
Argentina, que driblou o continuísmo explícito com outro Kirchner
na Casa Rosada, a Colômbia, que
discute se vai ou não vai, e a Bolívia,
que se debate entre opostos -Evo
Morales cai ou se reelege?
No Brasil, quem levanta a tese do
terceiro mandato para Lula em
2010 não é o adversário que quer
constrangê-lo. É o aliado que quer
mantê-lo a qualquer custo. Há
emendas de petistas, pois não?
Lula chegou a titubear, dizendo
que a aventura era "improvável",
quando se esperava que dissesse
"impossível". Diante das repercussões negativas, inclusive dentro do
próprio Palácio do Planalto, evoluiu
para negativas mais convincentes.
Já disse que falar em terceiro mandato seria como arranjar "sarna para se coçar" e, alegre no dia do aniversário, que as pessoas não são
"imprescindíveis" nem "insubstituíveis" na política.
Mas é justamente aí, na política,
que tudo é possível. Lula diz que
não quer, porque não poderia dizer
nada diferente, mas basta uma
pressão do partido, da base aliada,
de parcelas do eleitorado para que a
coisa mude de figura. Palocci registrou em cartório que não largaria a
prefeitura. Largou e virou ministro.
Serra assinou publicamente o compromisso de não trocar o cargo de
prefeito por qualquer outro. Trocou pelo de governador.
Já que a re-reeleição é "improvável" e ninguém é "imprescindível
nem insubstituível", o PT deveria
matar e enterrar a sarna hoje, antes
que comece a coçar. Porque, quando começa, não pára mais...
elianec@uol.com.br
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