São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

As palmeiras de dom João 6º

RIO DE JANEIRO - Nunca dei palpite sobre a recorrente (e redundante) polêmica a respeito da rivalidade entre Rio e São Paulo. Isso não me impede de estranhar certas matérias e artigos da imprensa paulista considerando as comemorações da chegada da corte de dom João 6º ao Brasil como um pretexto para colocar a azeitona de praxe na empada do carioca.
O Rio tem misérias mil, da mesma forma que tem os "encantos mil do coração do meu Brasil" -segundo a letra do nosso hino oficial. Encantos e misérias que formam a sua biografia -e o Rio não tem culpa de possuir uma suculenta biografia para todos os gostos. Desde o Cristo Redentor, maravilha de um mundo sem maravilhas, até as chacinas que formam o nosso dia-a-dia nada maravilhoso.
Quando tivemos a Rio 92, a imprensa paulista preferiu a expressão "Eco 92". As duas versões estavam corretas. Foi uma questão de escolha -ou critério- editorial. No resto do mundo e nos documentos oficiais, ficou a primeira expressão, como a do Tratado de Madri, a Dieta de Worms (nem sei o que é isso, só lembro o nome), o Édito de Nantes, o Congresso de Viena etc. O grau de importância não conta.
Nenhum carioca ousou reclamar do "Ouviram do Ipiranga" nem contestar o horário do trem de Jaçanã. Cada macaco tem o direito a seu galho, ou cada galho tem o direito a ter um macaco.
O fato é que o Rio, aldeia infecta e cidade suja até hoje, durante algum tempo foi sede de um império europeu que tinha colônias em vários continentes. A chegada da corte portuguesa é considerada por muitos estudiosos o pontapé inicial de nossa partida na história.
Penso sempre em dom João 6º quando vejo as palmeiras imperiais que ele plantou e que se refletem na Lagoa, em frente à minha varanda.


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