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CARLOS HEITOR CONY
As palmeiras de dom João 6º
RIO DE JANEIRO - Nunca dei
palpite sobre a recorrente (e redundante) polêmica a respeito da rivalidade entre Rio e São Paulo. Isso
não me impede de estranhar certas
matérias e artigos da imprensa paulista considerando as comemorações da chegada da corte de dom
João 6º ao Brasil como um pretexto
para colocar a azeitona de praxe na
empada do carioca.
O Rio tem misérias mil, da mesma forma que tem os "encantos mil
do coração do meu Brasil" -segundo a letra do nosso hino oficial. Encantos e misérias que formam a sua
biografia -e o Rio não tem culpa de
possuir uma suculenta biografia para todos os gostos. Desde o Cristo
Redentor, maravilha de um mundo
sem maravilhas, até as chacinas que
formam o nosso dia-a-dia nada
maravilhoso.
Quando tivemos a Rio 92, a imprensa paulista preferiu a expressão "Eco 92". As duas versões estavam corretas. Foi uma questão de
escolha -ou critério- editorial. No
resto do mundo e nos documentos
oficiais, ficou a primeira expressão,
como a do Tratado de Madri, a Dieta de Worms (nem sei o que é isso,
só lembro o nome), o Édito de Nantes, o Congresso de Viena etc. O
grau de importância não conta.
Nenhum carioca ousou reclamar
do "Ouviram do Ipiranga" nem
contestar o horário do trem de Jaçanã. Cada macaco tem o direito a
seu galho, ou cada galho tem o direito a ter um macaco.
O fato é que o Rio, aldeia infecta e
cidade suja até hoje, durante algum
tempo foi sede de um império europeu que tinha colônias em vários
continentes. A chegada da corte
portuguesa é considerada por muitos estudiosos o pontapé inicial de
nossa partida na história.
Penso sempre em dom João 6º
quando vejo as palmeiras imperiais
que ele plantou e que se refletem na
Lagoa, em frente à minha varanda.
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