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MARCOS NOBRE
Padrão Osesp
HÁ ALGUM tempo começou
a circular a expressão "padrão Osesp". Refere-se à
muito boa qualidade da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo.
A Osesp representa a visão de
que o fomento à cultura deve ser o
do investimento concentrado em
poucos e ambiciosos projetos. A
idéia é a de estabelecer um padrão
de excelência que forme o público e
sirva de referência de qualidade
para outros projetos na mesma
área.
É uma resposta tradicional ao dilema brasileiro de formar um público de cultura que já deveria ter
sido formado. Se houvesse escola e
padrões de vida minimamente decentes para toda a população.
Essa visão se estende agora também para a São Paulo Companhia
de Dança, criada no início deste
ano. Tal como a Osesp, a Companhia terá sede própria, um edifício
orçado em R$ 300 milhões e projetado pelo escritório de arquitetura
suíço que concebeu o estádio mais
famoso da Olimpíada de Pequim, o
chamado Ninho de Pássaro.
Tem tudo para seguir o exemplo
da Osesp. O mais recente espetáculo mostra uma companhia ainda
verde, mas com grande potencial e
muito profissionalismo.
Talvez porque ainda nos seus
inícios, a programação revela de
maneira mais clara a concepção
tradicional de cultura que a anima.
Não apenas executou obras clássicas de Stravinsky e de Tchaikovsky
mas reconstituiu as coreografias e
figurinos originais de 1923 e de
1935.
Uma das ilusões mais comuns na
vida é a de pensar que é possível reconstituir uma experiência histórica "como realmente foi". Ao contrário, a única chance de uma obra
continuar a ter vida é a de ser interpretada, de ser apropriada pela experiência do presente. Os dois monumentos clássicos da dança foram executados sem qualquer distanciamento, irônico ou trágico.
A obra contemporânea do programa foi um breve interlúdio, espremido entre as coreografias de
Bronislava Nijinska e George Balanchine. Como que pedia desculpas por estar ali. Representou um
apanhado de lugares-comuns da
dança contemporânea em forma
de exercícios.
Depois do fim das vanguardas e
das utopias, reza a cartilha do tempo que é melhor realizar um espetáculo tradicional a arriscar-se por
terreno desconhecido. No limite,
não mais que bordar sobre cânones
reconhecidos e estabelecidos.
Não que seja ruim que essa concepção tradicional de cultura alcance seu objetivo limitado. Mas
seu verdadeiro sucesso depende
de que as gerações que formar
ponham abaixo o seu conservadorismo.
(À memória de Eleazar de Carvalho, em gratidão pelas segundas-feiras no Teatro Cultura Artística)
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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