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RUY CASTRO
Mudou de patamar
RIO DE JANEIRO - Em Maceió,
na semana passada, mais uma mãe
acorrentou a filha à cama para evitar que saísse à rua e fosse assassinada por traficantes, com quem tinha uma dívida pesada por drogas.
A garota, 15 anos, é dependente de
crack desde os 12; também já é mãe
e costuma se prostituir em função
do produto. Em contrapartida, relatos sobre pais que saem para buscar
crack e abandonam seus bebês em
casa durante horas são diários e em
todo o país.
Em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, também na
semana passada, um casal usuário
de crack, num surto de abstinência,
arremessou o filho de 1 ano e 3 meses contra a parede. Ainda em BH,
um pai chamou a PM para conter a
agressividade do filho, 29 anos, que
fumava crack em casa e o ameaçava.
À chegada da polícia, o rapaz reagiu
com uma faca e foi morto com 12 tiros, na frente da família.
No Rio, perto da Mangueira, um
homem de 65 anos matou a filha, de
42, com uma facada no coração. A
moça e o marido, dependentes de
crack, tentavam agredir a mãe dela,
usando uma barra de ferro e uma
garrafa quebrada. O pai pegou uma
faca de cozinha e, para defender a
mulher, acertou a filha. Há pouco
mais de um mês, idem no Rio, outro
dependente, 26 anos, foi entregue à
polícia pelo pai após matar a namorada, de 18. Com o crack, nenhuma
família fica de pé.
O problema da droga no Brasil
mudou de patamar. Não se trata
mais de jovens que, depois de anos
de uso esporádico e recreativo de
drogas "leves", tornam-se dependentes e problemáticos. Agora,
usou, bateu -ninguém usa crack
recreativamente-, em todas as faixas sociais, culturais e de idade.
Sim, o ser humano sempre usará
drogas. Se houver oferta. Há menos
de dez anos, o crack estava restrito a
uma esquina de São Paulo. Não se
cuidou dele e, agora, o drama é nacional. E ninguém está a salvo.
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