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ANTONIO DELFIM NETTO
Depois do choque fiscal
CONTINUA A HAVER uma séria dúvida entre os economistas sobre a eficácia da política fiscal para reduzir os efeitos
da crise bancária.
Recentes trabalhos empíricos
feitos no FMI ("Working Paper",
9/106, maio de 2009, e 9/168, julho
de 2009) começam a esclarecer
melhor o problema. Confirmam
que os resultados a médio prazo de
uma política anticíclica não dependem apenas das condições iniciais
em que ela é realizada. Dependem
também da expectativa dos agentes em relação a como se comportará o governo quando a crise
amainar e for necessário devolver o
espaço ao setor privado para que
amplie o seu consumo e o seu investimento.
Há dois pontos importantes que
precisam ser lembrados: 1) a desilusão com os "mercados" não pode
ser argumento para substituí-los
por arranjos burocráticos. Com todos os seus problemas, eles são a
única forma descoberta pelo homem, até agora, para realizar uma
alocação relativamente eficiente
dos recursos escassos da sociedade
compatível com a liberdade individual; 2) as políticas fiscal e monetária para enfrentar a crise objetivam
preencher a lacuna de demanda
deixada pelo enfraquecimento dos
gastos do setor privado (consumo e
investimento) que resultam do pânico criado pela crise. Elas devem,
portanto, ser revistas tão logo a
economia revele vigorosos sinais
vitais.
A conclusão de um dos estudos
(julho de 2009) indica que uma
resposta fiscal adequada, acompanhada de uma política monetária
que enfrente as dificuldades do setor financeiro, "contribui para encurtar o período da crise" (talvez
em um ano!).
Uma condição fiscal antes da crise é indispensável para o sucesso
das políticas anticíclicas: baixa relação dívida pública/PIB. Para consolidar o sucesso, os gastos do governo que no curto prazo substituem a demanda privada devem levar, no médio prazo, ao aumento
da produtividade da economia,
ampliando a oferta. Logo, a qualidade do gasto é decisiva!
A principal revelação do segundo
estudo (maio de 2009) é que "a resposta da economia ao aumento das
despesas públicas depende, fortemente, das expectativas dos agentes sobre a capacidade de compensá-las no futuro". Se eles acreditam
que o excesso de despesas será
compensado no futuro, "o consumo privado crescerá e a taxa real de
câmbio se depreciará em resposta
ao choque de despesa".
A conclusão final é que a eficácia
do "choque" depende da boa qualidade da situação fiscal antes dele
(superavit primário que sustenta
uma baixa relação dívida pública/
PIB) e da qualidade dos gastos.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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