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CARLOS HEITOR CONY
Grandes esperanças
RIO DE JANEIRO - Entre as frases do ano que passou, os resenhistas destacaram uma confissão de Lula: "Não
somos tão ruins quanto alguns nos
acusam nem tão bons como pensamos que somos" (a frase exata pode
não ser essa, mas o sentido é esse mesmo). Boa frase, mas que pode se aplicar não apenas ao governo atual mas
a todos os governos passados e futuros. Mais: em escala individual, pode
se aplicar a cada um de nós, que nunca somos tão ruins como os outros
pensam nem tão bons como julgamos
de nós mesmos.
No caso de Lula, o "bom" ficou
mais ou menos evidente com a superlouvada performance da economia
-segundo leio nos cadernos especializados e ouço dos políticos que garantem a sua base política. O "ruim"
ficou escancarado, com o fracasso dos
programas de impacto lançados nos
primeiros dias de governo. Volta e
meia, o próprio presidente avisa que
tudo tem sido sucesso, mas a realidade é outra, está mais do que na cara.
No meu entender, em que pesem a
simpatia e o carinho que tenho por
Lula -no que sou acompanhado,
excepcionalmente, por milhões de
brasileiros que aprovam o presidente-, entre o bom e o ruim de seu governo instalou-se a decepção do muito que dele se esperava e que até agora não veio nem parece estar a caminho.
Não votei nele -como não votei
em ninguém na última eleição-,
mas testemunhei o entusiasmo que
sua eleição despertou nas diversas camadas da população, desde banqueiros até gente do salário mínimo. Não
participei do entusiasmo geral: por
temperamento e cautela, evito qualquer tipo de entusiasmo.
Mas folguei civicamente com a alegria generalizada que a eleição de
Lula causou em toda a nação. E é
exatamente neste departamento -o
da alegria geral- que a frase de Lula
cai no vazio. Seu governo pode não
ser tão ruim como querem alguns,
nem tão bom como outros acreditam.
Mas as grandes esperanças continuam sendo apenas o título de um
romance de Dickens.
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