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CARLOS HEITOR CONY
Enfim, um discurso
RIO DE JANEIRO - Sem ter nada
o que fazer no primeiro dia do ano,
procurei ouvir com atenção e respeito os dois discursos de Lula, um
no Congresso, outro no parlatório
do Palácio da Alvorada.
O primeiro foi o blá-blá-blá de
sempre, promessas de reforma política e tributária não muito diferentes daquelas que Collor e FHC
fizeram no passado. No parlatório,
quando falou de improviso, teve
momentos brilhantes, principalmente na parte final, quando abordou o problema da violência no Rio
de Janeiro. A primeira parte do improviso foi a do Lula que conhecemos falando a linguagem do povo e
procurando atingir o imaginário do
povo, promessas disso e daquilo e,
de forma recorrente, citando-se a si
mesmo como exemplo.
Na segunda parte, contudo, ele
revelou uma indignação que não
era forjada nem estratégica. Não
era um político falando, mas o presidente da República agindo a céu
aberto, revelando que já entrara em
entendimentos com o governador
do Rio, Sérgio Cabral, considerando
o banditismo carioca uma expressão do terrorismo mais bárbaro e
comunicando que a partir de agora
o combate a este terrorismo será
um problema do Estado brasileiro,
e não do Estado do Rio de Janeiro.
Um bom discurso de posse que
não ficou em idéias genéricas e promessas vagas disso ou daquilo. Embalado pela circunstância (os recentes atos terroristas), deu a seu
discurso a vitalidade que se espera
do presidente da República e não se
perde no conceitual e enfrenta a
realidade com a realidade de sua
ação.
O que foi dito na parte final de seu
discurso será cobrado pela nação e
sobretudo pelos cariocas que se
sentem desamparados e desesperados diante da onda de terrorismo.
Um terrorismo sem conotação
ideológica que só pode ser combatido com as forças de toda a nação.
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