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MARCOS ANTONIO CINTRA
A integração financeira
APÓS 2003, os bancos, o mercado de capitais e de derivativos no Brasil aprofundaram seus vínculos com o sistema financeiro internacional. Os bancos
nacionais e estrangeiros desenvolveram estratégias para expandir o
crédito pessoal, mediante associação com financeiras e com redes de
varejistas e o crédito corporativo.
Até novembro de 2006, a concessão de empréstimos alcançou R$
125 bilhões, o mesmo valor emitido
pelo mercado de capitais.
Essa expansão da Bolsa de Valores de São Paulo esteve associada
com a entrada dos investidores estrangeiros, os quais passaram a
responder por 35% do volume negociado. Nas emissões de ações, os
estrangeiros subscreveram mais
de 60% da oferta. Simultaneamente ampliou-se o volume médio de
negócios com American Depositary
Receipts de empresas brasileiras
na Bolsa de Valores de Nova York.
Até o início de novembro, o volume negociado em ADRs de empresas brasileiras em Nova York ultrapassou o total transacionado no
mercado à vista da Bovespa. A dinâmica do mercado doméstico ficou condicionada às operações dos
investidores estrangeiros na Bovespa e em Nova York.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros, o volume de negócios atingiu o recorde de US$ 8,8 trilhões
(R$ 19,1 trilhões) até novembro. Ao
mesmo tempo, o interesse do investidor internacional pelos altos
juros praticados no Brasil fervilhou os negócios com contratos futuros de reais no exterior conhecidos como Non Deliverable Forward
(NDF). Por meio desses contratos,
os investidores estrangeiros podem comprar reais e vender dólares em uma data no futuro sem entrega física da moeda. A taxa de
câmbio real/dólar passou a ser fortemente condicionada por essas
operações e pelos contratos futuros de real negociados na Bolsa de
Mercadorias de Chicago.
Finalmente, ampliou-se internacionalização de parte da riqueza
das famílias e das empresas brasileiras. Segundo o BC, o estoque de
capitais brasileiros no exterior
atingiu US$ 111,7 bilhões em dezembro de 2005, um crescimento
de 20% sobre o ano anterior.
Essa integração crescente dos
mercados e dos agentes sofisticou
o sistema financeiro doméstico e
fomentou uma nova coalizão de interesses bastante distinta daquela
que impulsionou o crescimento do
setor industrial brasileiro (1930-1980). O atual modelo de desenvolvimento liderado pelas finanças e
pelos setores exportadores de
commodities contém muitas semelhanças com o padrão de crescimento característico da República
Velha (1889-1930), exportador de
café e integrado ao sistema financeiro internacional. Enfim, o êxito
de alguns segmentos da sociedade
não necessariamente garante os
interesses da nação.
MARCOS ANTONIO CINTRA é editorialista da Folha.
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