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KENNETH MAXWELL
O músico e a música
2008 será o ano da China, e
não só por causa da Olimpíada: política e economia também se farão sentir, e nem tudo será leve e suave.
Dois fatores tornam
provável esse desdobramento. Primeiro, a solução da crise de crédito
nos Estados Unidos e na Europa, e
em especial os métodos usados pelos fundos de investimento "soberanos", ou seja, controlados pelos
governos do Oriente Médio e da
Ásia, a fim de oferecer liquidez ao
sistema financeiro internacional.
Segundo, a campanha presidencial
dos EUA, que começa a sério hoje,
com a primária de Iowa, e seguramente vai assumir tom cada vez
mais populista à medida que o ano
avança, particularmente se os EUA
entrarem em recessão. Quanto às
questões econômicas, o americano
médio é mais "nacionalista" que as
elites empresariais e políticas; tal
dado é revelado de modo consistente em pesquisas feitas ao longo
dos anos, quando as opiniões dos
"líderes" são contrastadas com as
da população em geral.
Vale lembrar a última grande crise do petróleo, nos anos 70, quando
grandes superávits de dólares foram acumulados por países exportadores de petróleo. Os bancos dos
EUA reciclaram os "petrodólares"
em empréstimos aos países em desenvolvimento da América Latina,
que tinham dificuldades de caixa.
Os bancos alegavam que tais empréstimos não traziam risco. Os devedores eram governos nacionais,
ou seja, órgãos "soberanos", e nações, afirmavam os bancos, não podem falir. Mas quando esses "soberanos" todos começaram de fato a
decretar moratórias, ficou óbvio
que os inteligentes em toda a história foram os árabes, e não os bancos
norte-americanos ou os países da
América Latina. Afinal, coube aos
bancos dos EUA, e não aos árabes,
assumir a responsabilidade pelos
empréstimos reciclados.
Agora o superávit de petrodólares no Oriente Médio é complementado pelas imensas reservas
cambiais da China, e os novos "soberanos" se tornaram investidores,
e não devedores. Eles têm liquidez
no exato momento em que os bancos europeus e americanos não
têm. Assim, fundos controlados
por Estados da Ásia e Oriente Médio estão abocanhando participações substanciais em instituições
financeiras dos EUA e Europa: o
fundo chinês adquiriu 9,9% do
Morgan Stanley e 9,4% do Blackstone; e a Citic, 6% do Bear Stearns.
Os banqueiros crêem que essa
seja uma boa notícia; mas estavam
errados da última vez. Recentes
pesquisas nos EUA demonstram
que 58% dos americanos acreditam que a globalização prejudicou
o país, e os eleitores democratas e
republicanos estão próximos de
acordo completo quanto a isso. Em
ano de eleição e de dificuldades
econômicas, os eleitores tendem a
acreditar no velho ditado (não chinês), segundo o qual "quem paga o
músico escolhe a música".
KENNETH MAXWELL escreve às quintas nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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