São Paulo, domingo, 03 de janeiro de 2010

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Editoriais

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Antologia do cinismo

O S DESMANDOS protagonizados pelos congressistas brasileiros têm sido tão frequentes nos últimos tempos que corre o risco de tornar-se automático e sem surpresas o noticiário sobre o tema.
Mas a previsibilidade no privilégio e no deboche talvez não passe de efeito estatístico. Quando se chega ao detalhe individual, verdadeiras proezas de originalidade se destacam.
É ilustrativo, assim, acompanhar os "capítulos" em que se desdobra a cobertura realizada pela Folha a respeito do uso de verba indenizatória pelos deputados federais. Relacionam-se agora as viagens de parlamentares a estâncias turísticas, pagas com recursos do contribuinte.
Assim resumido, o abuso segue os padrões da "normalidade" congressual. Tome-se, entretanto, o caso do deputado Ennio Bacci (PDT) -e tudo se tinge de humor sinistro.
Sua estadia numa cinematográfica pousada do litoral catarinense teve como justificativa o interesse em conhecer o sistema prisional daquele Estado -em especial, explica, "os contêineres, como modelo emergencial de gerar celas para os presos".
Eis um método, sem dúvida, de análise comparativa dos padrões de conforto humano -na qual, de forma menos extremada, também incidiu o deputado Laurez Moreira (PSB-TO). Passou um fim de semana grátis na estância termal de Caldas Novas, em Goiás, declarando intuito de recolher ideias para o incremento do turismo em seu Estado.
Revelados pela Folha após dura batalha judicial contra o sigilo nas contas parlamentares, casos assim acrescentam colorido próprio aos escândalos de sempre. Não só a irregularidade mas também as justificativas para cometê-la concentram, de forma antológica, as peculiaridades do cinismo nacional.


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