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Antologia do cinismo
O S DESMANDOS protagonizados pelos congressistas
brasileiros têm sido tão
frequentes nos últimos tempos
que corre o risco de tornar-se automático e sem surpresas o noticiário sobre o tema.
Mas a previsibilidade no privilégio e no deboche talvez não
passe de efeito estatístico. Quando se chega ao detalhe individual, verdadeiras proezas de originalidade se destacam.
É ilustrativo, assim, acompanhar os "capítulos" em que se
desdobra a cobertura realizada
pela Folha a respeito do uso de
verba indenizatória pelos deputados federais. Relacionam-se
agora as viagens de parlamentares a estâncias turísticas, pagas
com recursos do contribuinte.
Assim resumido, o abuso segue os padrões da "normalidade"
congressual. Tome-se, entretanto, o caso do deputado Ennio
Bacci (PDT) -e tudo se tinge de
humor sinistro.
Sua estadia numa cinematográfica pousada do litoral catarinense teve como justificativa o
interesse em conhecer o sistema
prisional daquele Estado -em
especial, explica, "os contêineres, como modelo emergencial
de gerar celas para os presos".
Eis um método, sem dúvida, de
análise comparativa dos padrões
de conforto humano -na qual,
de forma menos extremada,
também incidiu o deputado Laurez Moreira (PSB-TO). Passou
um fim de semana grátis na estância termal de Caldas Novas,
em Goiás, declarando intuito de
recolher ideias para o incremento do turismo em seu Estado.
Revelados pela Folha após dura batalha judicial contra o sigilo
nas contas parlamentares, casos
assim acrescentam colorido próprio aos escândalos de sempre.
Não só a irregularidade mas
também as justificativas para cometê-la concentram, de forma
antológica, as peculiaridades do
cinismo nacional.
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