São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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Balanço do governo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - FHC multiplicou por cinco a dívida pública. Aumentou o déficit fiscal, bagunçou como nunca ninguém antes bagunçara o balanço de pagamentos. Produziu em massa o desemprego, mesmo dispensando a brilhante ajuda do Mendonça de Barros, que desejava um Ministério da Produção para esse fim.
Quebrou empresas e colocou grande parte do parque industrial a caminho da quebradeira total. Foi reeleito na base de uma colossal mistificação, à custa de uma cesta básica garantida por um real cenográfico e do apoio ostensivo e quase delirante das elites empresariais, que estão satisfeitas com o desmantelamento dos sindicatos e das greves.
Pior mesmo, em face do julgamento que a história dele fará, foi a venda das estatais, em bases duvidosas quanto à probidade dos leilões e inútil quanto aos resultados: o anunciado lucro foi sorvido pelos juros, não deu sequer para amortizar o débito principal.
Com isso, agradou aos investidores daqui e de lá. Agradou sobretudo aos corretores que ocupavam posições-chave na hora dos leilões. Os maus brasileiros que grampearam os telefones do BNDES merecem a execração pedida pelos prejudicados, mas simplesmente não revelaram nenhuma novidade.
Esse é o balanço do governo de FHC que sinto de minha obrigação fazer na primeira semana de seu novo mandato. Não se trata de uma opinião, mas de fatos concretos que todos sabemos. Deles eu poderia tirar a opinião, que realmente tiro e que os leitores (se os há) poderão adivinhar.
Mas os fatos são fatais. O que não chega a ser fatalidade é o chantilly da personalidade acaciana do presidente. Esta é mesmo aleatória. Basta citar uma frase sua, de quatro anos atrás: "Vamos fazer da solidariedade a mola de um grande sentimento para varrer do mapa do Brasil a fome e a miséria". O conselheiro Acácio não faria melhor.



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