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CLÓVIS ROSSI
O beijo
SÃO PAULO - A câmera do "Jornal
Nacional" passeia pelo plenário da
Câmara dos Deputados mostrando
a comemoração pela vitória de Arlindo Chinaglia.
Abraça um, cumprimenta outro,
até que se achega Paulo Salim Maluf. Mais que cumprimento, parece
que tasca um beijo no rosto do recém-eleito presidente da Câmara.
Se eu fosse malicioso, diria que a
Rede Globo resolveu inserir um fotograma de "Il Padrino" em pleno
telejornal. Até faria sentido: 1 em
cada 7 deputados que tomaram
posse anteontem tem processos
pendentes na Justiça.
Não deve ser um coeficiente muito diferente dos "capi" mafiosos.
Mas, como tenho inoxidável fé
nos homens públicos brasileiros,
prefiro acreditar na frase de Maluf,
que li em um portal da Internet:
"Sou o homem mais puro do país".
O presidente Lula talvez fique
bravo, pela cópia de seu estilo e pela
concorrência no torneio da ética,
mas, como são agora parceiros de
governo, que se entendam.
Minha única dúvida é saber o que
purificou Maluf, se a adesão dele ao
antigo inimigo, o PT, ou se a adesão
do PT ao malufismo, entendido como um modo de fazer política.
Se eu continuasse sendo malicioso, diria que a purificação pode ter
algo a ver com o ecumenismo de
contas no exterior, as tais contas
que Maluf morrerá jurando que
nunca teve. Afinal, teria lógica de
novo: Duda Mendonça, o marqueteiro que fez Maluf, fez também
"Lulinha paz e amor" e não nega
que foi pago em contas no exterior
(não seria justo que Duda Mendonça entrasse no concurso de "homem mais puro"?).
Mas, como não sou malicioso,
prefiro denunciar a malícia do "Jornal da CBN" na manhã de ontem.
Logo após o noticiário sobre a posse
dos Malufs, Collors e Chinaglias,
entrou musiquinha (acho que dos
"Demônios da Garoa") cujo refrão
dizia: "Nós enganemo vocêis".
crossi@uol.com.br
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