São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Apenas um nobre propósito

DESTA VEZ , as celebridades que se reúnem todos os anos em Davos (Suíça) decidiram fazer um manifesto reconhecendo a urgência de acelerar o desenvolvimento no mundo. Assinaram o documento políticos importantes, chefes de Estado e grandes empresários.
Os signatários tomaram o ano de 2000 como referência, reconhecendo ter havido conquistas inegáveis nos campos da mortalidade infantil, das imunizações, do tratamento anti-Aids e outras.
Apesar disso, mais de 3 bilhões de habitantes carecem de condições sanitárias adequadas; 1 bilhão vive com menos de US$ 1 por dia; 33 milhões vivem com o vírus HIV; 72 milhões de crianças continuam fora da escola; um milhão morre de malária; meio milhão de mulheres sucumbe durante a gravidez ou após o parto.
Se tudo continuar nesse ritmo, o mundo não atingirá as metas traçadas para 2015 que visam erradicar as formas mais perversas de pobreza. Daí a iniciativa de 19 países e 21 grandes empresas que se comprometeram em liderar um conjunto de programas para avançar mais depressa na redução da pobreza.
Fixaram metas intermediárias para 2010, tais como aumentar para 4 milhões o número de crianças sobreviventes; matricular 25 milhões de alunos nas escolas; atender e proteger 35 milhões de partos com tratamento adequado; estender o acesso à água para 70 milhões de pessoas.
Qual é a estratégia para levar a cabo essas boas intenções? A idéia é mobilizar forças nacionais e multinacionais e realizar reuniões de avaliação periódicas.
Não se podem negar os nobres propósitos desse movimento. Mas o alcance das metas fixadas depende de cada país superar os seus constrangimentos, crescer mais e distribuir melhor os frutos do crescimento.
Para tanto, há que se chegar a um acordo mais humano entre as nações. Estamos longe dessa consciência. O que se nota é uma certa inflexão do protecionismo. Parece que as economias se fecham cada vez ainda sob uma retórica de abertura e cooperação.
O grande entendimento que se busca é o de criar condições para a cooperação entre as nações no campo do comércio internacional.
É claro que a competição faz parte do regime de livre iniciativa, mas em nome dela não se podem construir trincheiras para aniquilar os mais fracos. Infelizmente, não vi uma palavra sobre esse assunto no oportuno manifesto dos grandes líderes que compareceram a Davos.
Teremos de esperar pela reunião de 2009?

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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