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CARLOS HEITOR CONY
Depois do baile
RIO DE JANEIRO - Numa noite
antiga do momesco tríduo, que deixou de ser tríduo e não é mais tão
momesco assim, adentrei pela primeira vez no Canecão em noite de
gala. Supunha -e supunha errado-
que gala era o feminino de galo. Os
entendidos me ensinaram que a
mulher do galo é a galinha. E gala é
mais ou menos o oposto de uma
galinha.
Abastecido por tanta sabedoria,
penetrei na engalanada catedral de
papelão da Wenceslau Brás, disposto a não gostar de nada e, depois,
vencido pelas abundantes evidências, a gostar de tudo, menos da minha fantasia. O convite estipulava
traje a rigor ou fantasia de luxo. Como me prometi nunca mais vestir
um smoking nem tenho necessidade de usar fantasia além da minha
cara -minha máscara preferencial-, apelei para a imaginação já
fatigada. Vesti uma camisa com o
logotipo da revista na qual trabalhava e arranjei uma máquina fotográfica sem filme. Dei ao meu arranjo um nome, para o caso de me
exigirem uma explicação à entrada.
À minha frente, um cara ia desfilar
de "Vivre pour Vivre" -nome que
permitia liberdades e comportava
filosóficas ilações. Chamei minha
fantasia de "Gil Pinheiro", em homenagem ao competente profissional de nossa equipe.
Foi uma experiência curiosa,
pois, além de ter curtido à minha
maneira o baile oficial da cidade, fiz
fotos irreais de grupos e personagens reais que se postavam diante
de mim e de minha máquina à espera da consagração de uma página ou
quem sabe de uma capa.
Uma das princesas do Carnaval,
com coroa, faixa e coxas fartas, ficou rebolando à minha frente enquanto eu escolhia o "melhor ângulo" -que só obtive quando o baile
terminou e dei-lhe carona. Não era
para gostar do baile, mas acabei
gostando.
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