São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Depois do baile

RIO DE JANEIRO - Numa noite antiga do momesco tríduo, que deixou de ser tríduo e não é mais tão momesco assim, adentrei pela primeira vez no Canecão em noite de gala. Supunha -e supunha errado- que gala era o feminino de galo. Os entendidos me ensinaram que a mulher do galo é a galinha. E gala é mais ou menos o oposto de uma galinha.
Abastecido por tanta sabedoria, penetrei na engalanada catedral de papelão da Wenceslau Brás, disposto a não gostar de nada e, depois, vencido pelas abundantes evidências, a gostar de tudo, menos da minha fantasia. O convite estipulava traje a rigor ou fantasia de luxo. Como me prometi nunca mais vestir um smoking nem tenho necessidade de usar fantasia além da minha cara -minha máscara preferencial-, apelei para a imaginação já fatigada. Vesti uma camisa com o logotipo da revista na qual trabalhava e arranjei uma máquina fotográfica sem filme. Dei ao meu arranjo um nome, para o caso de me exigirem uma explicação à entrada. À minha frente, um cara ia desfilar de "Vivre pour Vivre" -nome que permitia liberdades e comportava filosóficas ilações. Chamei minha fantasia de "Gil Pinheiro", em homenagem ao competente profissional de nossa equipe.
Foi uma experiência curiosa, pois, além de ter curtido à minha maneira o baile oficial da cidade, fiz fotos irreais de grupos e personagens reais que se postavam diante de mim e de minha máquina à espera da consagração de uma página ou quem sabe de uma capa.
Uma das princesas do Carnaval, com coroa, faixa e coxas fartas, ficou rebolando à minha frente enquanto eu escolhia o "melhor ângulo" -que só obtive quando o baile terminou e dei-lhe carona. Não era para gostar do baile, mas acabei gostando.


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