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ANTONIO DELFIM NETTO
A taxa de câmbio
DE ACORDO COM estimativas (sempre sujeitas a chuvas e trovoadas), em 2008
transacionou-se diariamente, nos
mercados de câmbio mundiais,
qualquer coisa como US$ 1,8 trilhão (mais ou menos o PIB anual brasileiro).
Eles funcionaram cerca de 156
horas semanalmente para as 168
horas possíveis! Para ter uma ideia
de sua dimensão, basta considerar
que suas transações anuais andavam às voltas de US$ 450 trilhões,
contra um pouco mais de US$ 16
trilhões de operações comerciais e
serviços (exportação + importação, dividido por dois).
Esses números sugerem que
mais de 95% das transações com
moedas são oriundas do movimento internacional de capitais, para
investimentos, arbitragem ou pura especulação. No Brasil, a situação não é muito diferente, porque dispomos de um eficiente e sofisticado sistema financeiro e uma Bolsa
segura e organizada. Mesmo quando não há nenhuma restrição às operações de comércio
e serviços, a taxa de câmbio não é
mais aquele animal pré-histórico, o
preço relativo, que equilibrava fluxos de oferta e procura de divisas.
Ela é um ativo financeiro e, como
tal, sujeita, no curto prazo, às condições que estabelecem o equilíbrio nos mercados daqueles ativos,
particularmente as expectativas.
No mundo em que operam, 24
horas por dia, sete dias por semana,
os agentes financeiros especializados têm à sua disposição a velocidade proporcionada pela moderna
tecnologia ("high-frequency trading"). Para eles, o que importa são
as condições de equilíbrio de seus
portfólios, ou seja, dos estoques da
riqueza (moedas, títulos nacionais
e estrangeiros), que são ajustados a
cada variação das condições internas e externas e das expectativas.
A taxa de câmbio é apenas um
dos ingredientes do equilíbrio. Os
outros são a sua própria expectativa, a taxa de juro interna e a externa, o nível do PIB e o saldo em conta corrente, que equilibram (ajustam os estoques de ativos) os mercados financeiros nominados nas
várias moedas, como assistimos no
Brasil nas últimas semanas. Esse é
o preço da integração profunda do
mercado de capitais nacional ao mercado internacional.
O câmbio flexível (e a liberdade
de movimento de capitais, com instituições eficientes), ao mesmo
tempo em que libera às autoridades a escolha da política monetária,
pode tirar-lhe as condições de permitir o estabelecimento de uma taxa de câmbio adequada ao desenvolvimento econômico, o que só
acontecerá quando a taxa de juro real interna for igual à externa.
Isso é claramente impossível no
Brasil, onde o Banco Central namora a crença de que nossa taxa de
juro real de equilíbrio está entre 7% e 8% ao ano!
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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