|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Escala desumana
RIO DE JANEIRO - No meio de
tanta beleza arquitetônica, volta e
meia surge no Rio uma enquete
perguntando qual é o prédio mais
feio da cidade. Vários costumam ser
citados, mas o favorito não paga
dez: é a Catedral Metropolitana, na
avenida Chile, desde 1976 colada
aos Arcos da Lapa. Vista de fora,
lembra um balde emborcado, um
escorredor de macarrão ou uma
usina nuclear. As descrições variam, mas a sensação de horror
é constante.
Minha principal ojeriza ao monstro é que ele acanalhou os Arcos,
que, na sua inauguração como
aqueduto, em 1744, deram de beber
ao Rio e, com seus modestos 17 m,
eram a maior construção das Américas, da altura de um prédio de cinco andares. Mas a arcaria de pedra e
cal ficou nanica ao lado dos bufos,
estapafúrdios 96 m da Catedral,
equivalentes a um prédio de 32 andares. Aonde chegam a vaidade e a
prepotência de um arquiteto?
O entorno dos Arcos, compreendendo o casario da Lapa, o convento
de Santo Antonio e o morro de Santa Teresa -tudo parte do patrimônio histórico da cidade-, parece o
alvo preferencial dos megalôs. Ali já
estão a sede da Petrobras (sempre
citada em segundo na eleição do
prédio mais feio), o prédio do
BNDES e a vastidão inóspita, hostil,
estilo Brasília, da avenida Chile.
O ataque ao patrimônio recrudesceu por esses dias com a ameaça
de construção de mais dois espigões
na área: um anexo de 14 andares ao
BNDES e a nova sede da Eletrobrás,
com seus 44 andares. Isso numa cidade cheia de espaços, como a avenida Presidente Vargas, aberta nos
anos 1940 para receber esse tipo de
construção, e a zona portuária, que
implora por empreendimentos.
Algumas pessoas que respeito e,
bem sei, amam o Rio, têm seus argumentos para defender os espigões. Mas sou careta, gosto de prédios na escala humana, e ainda não
me convenceram.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: No PT, nada ao vosso reino Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: A taxa de câmbio Índice
|