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PRÊMIO À BOMBA
O presidente George W.
Bush e o premiê indiano,
Manmohan Singh, anunciaram ontem um acordo pelo qual Washington oferecerá a Nova Déli acesso a
tecnologias atômicas civis em troca
da abertura de parte de suas instalações nucleares à inspeção internacional. O acerto representa mais uma
fissura no já problemático Tratado
de Não-Proliferação Nuclear (TNP).
Por um lado, os EUA estão apenas
reconhecendo o que o mundo inteiro
já sabe: que a Índia é uma potência
nuclear. O problema é que, ao fazê-lo dispondo-se a transferir novas tecnologias, a Casa Branca pode estar
violando o TNP. Como signatários
do tratado na condição de membro
nuclear, os EUA se comprometeram
a não auxiliar direta ou indiretamente nenhum Estado a obter armamento atômico. É verdade que a Índia -a
exemplo do Paquistão e de Israel-
jamais assinou o TNP. Permanece
uma questão em aberto: saber se a
restrição se aplica ou não a ela.
Hermenêuticas jurídicas à parte,
Bush está de algum modo recompensando a Índia por jamais ter aderido ao pacto. É justamente esse tipo
de gesto que encoraja países como a
Coréia do Norte e o Irã a tentar burlar
as regras para construir a bomba.
O mundo será um lugar bem menos seguro quanto mais Estados tiverem acesso a armas de destruição
em massa. É do interesse da humanidade que o número de membros do
clube nuclear não cresça.
Além disso, é necessário que o TNP
seja revisto para incluir, senão um
cronograma de desarmamento, o
compromisso de que, em longo prazo, também as potências nucleares
abrirão mão dos arsenais. Deixar de
fazê-lo é projetar para a eternidade
uma situação de desequilíbrio, em
que as cinco potências nucleares ficam autorizadas a possuir artefatos
atômicos e os demais signatários
não. Assimetrias são um dado da
realidade, mas se deve agir para que
ao menos diminuam com o tempo.
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