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FERNANDO GABEIRA
Drogas e violência
NO AUGE do debate sobre
violência, Sérgio Cabral
mencionou a legalização
das drogas como um tema importante. Aparentemente, todos os
que acreditam nesta saída futura
deveriam lançar-se na batalha.
Mas quem conhece o processo
de legalização fora daqui sabe que
ele tem premissas que não foram
cumpridas no Brasil. Uma delas é
uma polícia mais ética e competente. Enquanto não se fizer uma reforma profunda nos organismos
policiais, a mudança pode contribuir com a violência.
Com o tempo e observação internacional, passei a ver a legalização
não como como uma renúncia ao
controle, mas um salto de qualidade no próprio controle.
Aqui, no Brasil, é evidente que a
súbita retirada dos mercados clandestinos jogaria os criminosos em
outros tipos de crime. Logo, é preciso estar preparado para esse deslocamento, de um modo geral para
seqüestros e roubos de carro.
Um brasileiro entrou num bar
holandês onde se vende maconha.
Estava de gorro, e o gerente do bar
se assustou. Chamou os seguranças que cuidam da entrada e os advertiu seriamente. Tinham esquecido da norma? É proibido entrar
de gorro. Isto significa que os lugares são monitorados por câmeras.
Os armazéns suecos que vendem
bebida possuem um grande fichário de clientes que não podem usar
álcool. O fichário é consultado e
uma luz vermelha se acende no caixa, indicando que, naquele caso,
era proibido vender.
Quando a Inglaterra decidiu liberar o uso de maconha numa região de Londres, o fez aconselhada
pela polícia. Argumento: quatro
horas para abrir inquérito contra
um usuário, é tempo preciso para
realizar tarefas mais importantes
de segurança pública.
Passei tantos anos falando em legalização e agora, que um jovem e
corajoso governador levanta a tese,
não posso abandoná-lo. Mas a melhor forma de concordar com ele é
apontar e contribuir com a premissa que, realmente, pode nos aproximar, como outros países, da fase
experimental: a reforma da polícia.
Mesmo a Colômbia, com os
avanços em Bogotá, está mais perto da legalização do que nós, pois,
do ponto de vista urbano, torna a
violência administrável.
A tarefa de reformar a polícia
não pode ser feita sem apoio da sociedade. Mas o importante é contar
com as forças especiais e o Exército. Isso protege contra bolas pelas
costas quando se tocam nos pontos
mais sensíveis da corporação.
Pensem no Haiti. Em situação
muito mais difícil, abriu-se um caminho em Bel Air e, nesta semana,
Cité Soleil caiu nas mãos dos brasileiros.
De que adianta correr o mundo
se não aprendemos as lições?
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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