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RUY CASTRO
107º lugar
RIO DE JANEIRO - Ora, vejam só.
Depois de 20 ou mais anos em que o
Rio foi malhado, temido e estigmatizado como a cidade mais violenta
do Brasil, descobre-se que é a 107ª
nesse ranking. Que pífio. Os dados,
divulgados nesta semana, são da
OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), com base nos óbitos por morte violenta levantados
pelo Ministério da Saúde. Ou seja,
se fosse a chegada de uma maratona, o Rio nem sairia na fotografia.
Mas o que aconteceu nesses últimos 20 anos foi justo o contrário: só
deu o Rio na fotografia. Um combate de quadrilhas aqui, um tiroteio
com a polícia ali e uma perseguição
de cinema acolá, o país foi convencido de que, para andar no Rio, o cidadão precisaria se blindar de alto a
baixo, embora o melhor fosse se
trancar em casa e, mesmo assim,
não estaria a salvo das balas que entrariam pela janela.
Era uma cidade sitiada. Já os gloriosos verões cariocas, com as
praias cheias o dia todo e os botequins regurgitando até altas horas
da noite, captados inadvertidamente por alguma câmera, deviam ser
imagens de arquivo. Ou, quem sabe,
videoclipe de bossa nova.
Aprisionados entre uma invencível idealização do passado (como
se, nos "anos dourados", não existisse violência) e a cruel satanização
do presente, até alguns nativos se
convenceram de que viviam no pior
dos mundos. E, de repente, essa notícia retumbante: há 106 cidades
mais violentas no Brasil. Muitas
têm guerras de traficantes, seqüestros reais ou simulados, chacinas
ferozes, ataques a delegacias, assaltos a bancos, arrastões em ônibus,
agressões a turistas e crianças vitimadas. Mas talvez não tenham críticos e analistas tão vigilantes quanto o Rio.
A satanização obsessiva do Rio
mascarou o problema, que sempre
foi nacional. Agora, a máscara começa a cair.
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