São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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ESTUDO PUBLICADO na semana passada reacendeu o debate em torno da eficiência de antidepressivos campeões de vendas como Prozac, Zoloft, Aropax. De acordo com o trabalho, assinado por Irving Kirsch, da Universidade de Hull (Reino Unido), antidepressivos dessa classe não são melhores que placebo para pacientes com depressão moderada e têm ação muito discreta em quadros graves.
A novidade do estudo é que ele usou não só trabalhos publicados, mas também testes não-publicados arquivados pela agência reguladora de medicamentos dos EUA, a FDA.
A polêmica acerca dessas drogas é antiga. Remonta ao licenciamento da fluoxetina (Prozac), nos anos 80. Dos muitos efeitos adversos graves relacionados a essas drogas, destaca-se um aparente aumento de suicídios em pacientes jovens.
Não resta dúvida de que, estimulados por uma propaganda muitas vezes enganosa, médicos e pacientes vêm abusando desses remédios. O consumo mundial saltou de pouco menos de 3 bilhões de doses em 1995 para mais de 10 bilhões em 2004.
É preciso, porém, relativizar os achados de Kirsch. Ele testou as drogas apenas para quadros depressivos, não para suas várias outras indicações, que incluem fobias sociais, síndrome do pânico, transtornos obsessivo-compulsivos, ejaculação precoce e cessação do tabagismo.
Também há estudos sugerindo que a introdução desses antidepressivos ajudou a reduzir suicídios de adultos. O Birô de Pesquisa Econômica da América, analisando dados de 26 países, concluiu que um aumento de vendas de uma pílula por pessoa por ano leva a uma queda de 5% nas mortes por suicídio.
A controvérsia em torno dos antidepressivos vai continuar, mas não há dúvida de que um uso mais criterioso faria bem à saúde e ao bolso dos pacientes.


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