São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009

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Emergência no Leste

Fuga de capital externo abala países da Europa Oriental e ameaça levar de roldão grandes bancos do continente

A CRISE financeira global atinge os países do Leste Europeu de maneira muito intensa, sobretudo aqueles com maior necessidade de financiamento externo, como Ucrânia, Hungria e Estados bálticos. As moedas dessas nações apresentam aguda desvalorização, fruto da debandada de aplicadores estrangeiros e da depressão global no crédito.
A onda de ataques especulativos que varre a Europa Oriental, chamada de ameaça "subprime" do continente, possui diversas dimensões interligadas.
Alguns países estimularam as famílias a tomar empréstimos imobiliários em moeda estrangeira. Na Hungria, por exemplo, a maioria das hipotecas está denominada em francos suíços. Em outros, bancos estrangeiros assumiram o controle dos sistemas financeiros privatizados após o colapso dos regimes comunistas.
Por mecanismos desse gênero, grandes casas bancárias europeias, sediadas em países como Áustria, Suíça, Holanda e Itália, descarregaram elevados volumes de empréstimos na Europa Oriental, notadamente em nações candidatas à admissão na zona do euro. Bancos austríacos, por exemplo, sustentam naquela região montante de crédito equivalente a 80% do PIB da Áustria.
Caso as famílias húngaras deixem de pagar suas hipotecas, o sistema financeiro austríaco será diretamente afetado. Um colapso nos países do Leste Europeu, portanto, tem o potencial de arrastar toda a zona do euro para uma nova espiral de crise.
A fim de evitar o pior, um grupo de instituições multilaterais, lideradas pelo Banco de Investimento Europeu, efetuou uma injeção de US$ 31 bilhões nos sistemas financeiros do Leste Europeu. O aporte, contudo, tem se mostrado insuficiente para auxiliar os países e as empresas da região a enfrentar a crise.
Numa manifestação positiva, os 27 membros da União Europeia, reunidos no fim de semana para discutir a ameaça financeira contra as nações orientais, refutaram as barreiras comerciais como solução para a crise. A UE reiterou que o mercado comum é "o motor da recuperação" e que o "o protecionismo não é a resposta" para a derrocada.
O bloco, contudo, rejeitou a criação de um programa de ajuda de 180 bilhões, proposto pela Hungria, para recapitalizar o sistema financeiro da Europa Oriental e reestruturar as dívidas externas. Ficou decidido que a ajuda será feita caso a caso.
Permanece a sensação de que a UE pretende apenas ganhar algum tempo, enquanto pressiona o grupo dos países mais industrializados do mundo (G20) para que aumente o poder de emprestar dinheiro de emergência do Fundo Monetário Internacional. Tempo, contudo, é o ativo mais precioso nesta crise. Desperdiçá-lo tem custado muito caro.


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