São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Honra e imagem

ROMA - A selvageria, que é companheira permanente do brasileiro, parece disposta a fazer escândalo periodicamente para que ninguém se esqueça de que ela existe e que é forte e muito disseminada. Ninguém é modo de dizer, porque as autoridades -as atuais, como quase todas as anteriores- não se dão nunca por aludidas, do que dá prova a reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus auxiliares à nova chacina no Rio de Janeiro.
Para dizer que foi um "crime bárbaro e covarde", melhor seria ter ficado quieto. É de uma obviedade tão galopante, ainda mais diante da selvageria do ato, que calar diria tanto quanto Lula disse.
À platitude segue-se o de sempre: oferta de ajuda federal para a investigação, ordem a algum ministro (no caso o de Direitos Humanos, Nilmário Miranda) para representá-lo no enterro, declarações igualmente indignadas, mas igualmente inócuas, de Miranda e de seu colega da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Da mesma forma que o governo anterior fracassou nessa área de segurança pública/direitos humanos, já passou do prazo para que o governo Lula desse uma mínima demonstração de que é capaz de pôr alguma ordem na anarquia brasileira.
Nilmário Miranda disse é "questão de honra" localizar e prender os responsáveis. É pouco, é muito pouco. Questão de honra deveria ser criar as condições para evitar, ou ao menos reduzir, as chances de que barbaridades como essa se repitam, uma e outra vez. Questão de honra deveria ser reduzir também a margem de selvageria cotidiana que inferniza a vida do brasileiro.
Mas nada. O sistema policial brasileiro continua sendo precário, contaminado. O aparelho judicial move-se com exasperante lentidão. Enfim, a "honra" do Estado brasileiro não será lavada apenas pela prisões dos responsáveis pela chacina da vez. Mas quem se preocupa com honra se se pode lavar ao menos a imagem?


@ - crossi@uol.com.br

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