São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005 |
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20 anos de democracia
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Em contraste, no Brasil continuamos a viver tempos anormais, de insegurança, de altas taxas de juros e de quase-estagnação econômica. E não existem consensos razoáveis sobre a natureza de nossos problemas nem sobre como os resolver. Inclusive porque perdemos a capacidade de pensar com a cabeça própria, e estamos sempre esperando que a orientação venha de fora. Em um quadro como esse, o país precisa, dramaticamente, de bom governo. De governo com visão dos grandes problemas nacionais e com coragem para os enfrentar. Um governo que não partiria do zero, porque o Brasil já conta com um empresariado competente, com uma classe média diversificada, com trabalhadores crescentemente qualificados e já dispõe de um Estado com pessoal e instituições razoavelmente efetivas. Mas há um mar de ações a serem tomadas para que o país possa voltar a pensar por conta própria, ter uma estratégia nacional de desenvolvimento e voltar a crescer. E não há garantia de que possamos ter o bom governo necessário para isso. A própria democracia, entretanto, nos oferece a saída. É a de chegarmos, nós mesmos, a consensos sobre a natureza de nossos problemas através do debate público. Uma das grandes vantagens da democracia reside exatamente nessa sua capacidade de produzir consensos. Não se trata de uma tarefa fácil, mas é viável, porque a democracia realmente existe no Brasil. Já não é mais uma simples democracia de elites, na qual o povo entra apenas como figurante, mas é uma democracia de opinião pública, na qual os políticos não têm alternativa senão prestar atenção no que essa opinião diz. E já há nela elementos participativos e republicanos razoáveis, que mostram que a cidadania vai deixando de ser mera retórica. A democracia brasileira nos oferece, portanto, a oportunidade do consenso sobre como retomar o desenvolvimento, como absorver a mão-de-obra excedente e como reduzir os diferenciais de renda. Esses consensos hoje são poucos e débeis. No momento em que, nos quadros da democracia, materializarem-se e ganharem substância, os governos passarão a agir de acordo com eles. E assim os verdadeiros problemas do país passarão a ser enfrentados. Seremos capazes de aproveitar essa oportunidade? Sou otimista a respeito, mas a resposta real a esta questão dependerá do espírito republicano de cada brasileiro. Luiz Carlos Bresser-Pereira, 70, professor de economia da FGV-SP, é colunista do caderno Dinheiro. Foi ministro da Ciência e Tecnologia e da Administração Federal e Reforma do Estado (governo Fernando Henrique), além de ministro da Fazenda (governo Sarney). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Geraldo Majella Agnelo: João Paulo 2º, o gigante da fé Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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