São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

Próximo Texto | Índice

OTIMISMO EM DÚVIDA

O relatório trimestral do Banco Central a respeito da inflação, divulgado na quinta-feira, trouxe indicações relevantes sobre a visão da autoridade monetária das perspectivas não só dos preços mas também da taxa de juros. Em particular, põe em dúvida o relativo otimismo de analistas do mercado financeiro quanto à probabilidade de uma redução substancial e quase ininterrupta da taxa de juros básica entre o presente e o final de 2007.
O trecho do relatório que suscita essa impressão é o em que o BC apresenta os resultados do seu modelo matemático de projeção de inflação. Trata-se de uma das principais ferramentas a orientar decisões sobre a taxa de juros básica.
Um dos exercícios de projeção realizados supõe que a cotação do dólar e a taxa Selic evoluirão, até o final do ano que vem, em conformidade com a expectativa média de bancos e consultorias que informam suas projeções ao BC. Quando da elaboração do relatório, essa média apontava para uma elevação progressiva mas moderada do dólar, para R$ 2,38 no quarto trimestre de 2007, e para uma redução também progressiva dos juros básicos, atingindo 13,57% no trimestre final do próximo ano.
Assumindo esses valores, o modelo do BC estima que em 2007 a elevação do índice de preços que baliza a política de metas de inflação o IPCA seria de 5,4%. Ocorre que a meta de inflação para 2007, definida pelo Conselho Monetário Nacional em junho de 2005, é de 4,5%, admitindo-se divergência de até dois pontos percentuais para mais ou para menos. Uma taxa de 5,4% não caracterizaria um descumprimento da meta, por situar-se dentro do intervalo de tolerância. Mas o BC tem sinalizado sistematicamente que busca levar a inflação à meta central.
Em outras palavras, admitindo-se que a partir do presente a cotação do dólar evolua de modo similar ao esperado pelos analistas e que o Banco Central siga a orientação recomendada por seu modelo de projeção, muito dificilmente ele continuará, ao longo do tempo, a reduzir os juros na proporção que esses mesmos analistas hoje esperam.


Próximo Texto: Editoriais: BENEFÍCIO COM CRITÉRIO
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.