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OTIMISMO EM DÚVIDA
O relatório trimestral do
Banco Central a respeito da inflação, divulgado na quinta-feira,
trouxe indicações relevantes sobre a
visão da autoridade monetária das
perspectivas não só dos preços mas
também da taxa de juros. Em particular, põe em dúvida o relativo otimismo de analistas do mercado financeiro quanto à probabilidade de
uma redução substancial e quase
ininterrupta da taxa de juros básica
entre o presente e o final de 2007.
O trecho do relatório que suscita
essa impressão é o em que o BC apresenta os resultados do seu modelo
matemático de projeção de inflação.
Trata-se de uma das principais ferramentas a orientar decisões sobre a
taxa de juros básica.
Um dos exercícios de projeção realizados supõe que a cotação do dólar
e a taxa Selic evoluirão, até o final do
ano que vem, em conformidade com
a expectativa média de bancos e consultorias que informam suas projeções ao BC. Quando da elaboração
do relatório, essa média apontava para uma elevação progressiva mas
moderada do dólar, para R$ 2,38 no
quarto trimestre de 2007, e para uma
redução também progressiva dos juros básicos, atingindo 13,57% no trimestre final do próximo ano.
Assumindo esses valores, o modelo do BC estima que em 2007 a elevação do índice de preços que baliza a
política de metas de inflação o IPCA
seria de 5,4%. Ocorre que a meta de
inflação para 2007, definida pelo
Conselho Monetário Nacional em
junho de 2005, é de 4,5%, admitindo-se divergência de até dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Uma taxa de 5,4% não caracterizaria
um descumprimento da meta, por
situar-se dentro do intervalo de tolerância. Mas o BC tem sinalizado sistematicamente que busca levar a inflação à meta central.
Em outras palavras, admitindo-se
que a partir do presente a cotação do
dólar evolua de modo similar ao esperado pelos analistas e que o Banco
Central siga a orientação recomendada por seu modelo de projeção,
muito dificilmente ele continuará, ao
longo do tempo, a reduzir os juros
na proporção que esses mesmos
analistas hoje esperam.
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