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CESAR MAIA
Mais violência organizada
UNS CINCO anos atrás, parecia que os governos latino-americanos começavam a
dar conta da violência organizada
no continente. Notícias positivas
estimulavam o otimismo. Durou
pouco. De lá para cá, a violência organizada em base às drogas, às armas e à extorsão, só fez crescer e
tornar o problema mais complexo.
Mesmo na Colômbia, apesar dos
fortes golpes aplicados à narcoguerrilha e nas maiores cidades, o
quadro se inverteu, pelo menos em
Medellín. Em 2009, o número de
homicídios dobrou em relação a
2008, atingindo 63 homicídios por
100 mil habitantes. A polícia fala
em mais de 160 gangues, responsáveis por 70% dessas mortes.
No México, os cartéis atuam como Estados paralelos, terceirizando operações e sicários, diversificando suas ações e trazendo o dinheiro faturado nos EUA para "lavar" em seu território, pelas dificuldades lá.
As "pandillas" centro-americanas (maras e savatruchas), com
epicentro em Los Angeles, ampliaram suas operações, especialmente em El Salvador e Guatemala, indo agora além da extorsão, se associando ao tráfico de drogas.
Venezuela se transformou numa
base de exportação de cocaína colombiana. Daí partem avionetas
com ampla liberdade. Caracas já é a
capital latino-americana com o
maior índice de homicídios por 100
mil habitantes (104). Com a destituição de Zelaya em Honduras, pode-se identificar as pistas de pouso
de avionetas vindas da Venezuela
com vistas ao mercado dos EUA.
O terremoto do Haiti, além da
tragédia própria, mostrou outra:
um PIB paralelo vindo do corredor
de exportação de cocaína. Na Bolívia é o próprio presidente que, em
nome da cultura indígena, estimula a expansão das plantações de coca. A cocaína boliviana abastece o
mercado brasileiro, estimado em
40 toneladas de consumo ao ano.
O Paraguai é hoje o maior produtor mundial de maconha, com tecnologia agrícola para alta intensidade. Um ha produz três toneladas
brutas, e são duas colheitas por
ano. Na fronteira com o Brasil, a
produção estimada é de 18 mil toneladas brutas. Dez gramas em São
Paulo valem US$ 3 no varejo.
No Brasil houve deslocamento
de eixo. À medida que o corredor
para a Europa saiu da península
ibérica para a África Ocidental
(Guiné-Bissau já é um narco-Estado), parte do corredor do Sudeste
foi para o Nordeste, na faixa litorânea, onde houvesse facilidade de
pistas para pequenos aviões e barcos para cruzar o Atlântico. Maceió
e Salvador (70) passaram a liderar
as capitais em homicídios por 100
mil habitantes, passando Recife,
Vitória e Rio, que por anos lideravam essa estatística macabra.
Espera-se que os novos governos
no continente revertam o sentido
dessa curva trágica.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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