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RUY CASTRO
O enigma do genoma
RIO DE JANEIRO - Foi há quase
dez anos, em junho de 2000, num
hotel do sul da França. A TV local
interrompeu a transmissão de uma
partida do Guga pelo torneio Roland Garros, que eu acompanhava
com um ouvido no jogo e outro na
música das esferas, para dar uma
bomba: a ciência acabara de decifrar uma coisa chamada genoma.
Pela empolgação do locutor, parecia algo do outro mundo. À beira
do rigor mortis, julguei ouvir palavras como "mapeamento", "sequência" e "genes". Mas tente decifrar uma informação científica dada pela TV francesa, quando se acabou de voltar da praia e bateu aquela modorra. Minha amiga, no outro
aposento, ouviu o alarido do locutor
e perguntou: "O que houve?".
"Não sei", respondi, bocejando.
"Descobriram um negócio chamado genoma. Não entendi se é um remédio ou uma doença."
Certo, ninguém pode se dar ao luxo de ser tão ignorante. Mas, em defesa de meu desconhecimento sobre o que seria um genoma, alego
que, poucas horas depois, Larry
King entrou ao vivo pela CNN para
entrevistar o Dalai Lama. E, como
aquele era o assunto do dia, perguntou-lhe o que ele achava do genoma.
Espetado à parede com uma pergunta fora do script, o pobre Dalai
começou a revirar os olhos à esquerda e à direita, como que pedindo socorro a seus assessores. E, como nenhum deles veio em sua salvação, limitou-se a sorrir, com sua
simpática carinha de tartaruga, e
deixou Larry King sem resposta.
Bem, dez anos depois, leio que o
Projeto Genoma é um sucesso como banco de dados, mas, pela sua
complexidade, ainda não rendeu os
efeitos que se esperavam nos tratamentos médicos. A comunidade
científica pede paciência.
Não posso falar pelo Dalai Lama,
mas os cientistas têm toda a minha
compreensão e torcida. O bicho é
complexo mesmo.
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