São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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HUMORES E RUMORES

O humor do mercado financeiro vem piorando há 15 dias, desde que o Banco Central decidiu não mexer na taxa de juros básica, frustrando a expectativa de um pequeno corte. Ontem essa piora se agravou: houve movimentos mais relevantes de queda no índice da Bovespa, de alta do dólar e de desvalorização dos títulos da dívida externa.
Algumas análises apontarão, como estopim do maior pessimismo, a ascensão de uma candidatura de oposição nas pesquisas eleitorais. Afinal, esse foi o fator invocado com maior ênfase por analistas de diversos bancos estrangeiros para justificar a recomendação aos investidores de que diminuam seus investimentos em papéis brasileiros.
Não é novidade que a perspectiva, presumida ou real, de mudanças na política econômica gere receios entre os investidores. Também já é sabido que lançar rumores a esse respeito pode criar oportunidades de ganho especulativo. Não se pode aquilatar até que ponto as oscilações de ontem se devem a movimentos desse tipo. Mas pode-se questionar se a piora de humor do mercado deve-se apenas a previsões, fundadas ou não, a respeito do que ocorrerá na economia a partir de 2003.
Isso porque a evolução efetiva da economia brasileira nos primeiros meses de 2002 já fornece motivos para cautela. A retomada da atividade vem se dando a um ritmo lento, o desemprego segue alto e a inflação custa a ceder. Além disso, a despeito da timidez da demanda interna, o saldo comercial melhorou menos do que muitos antecipavam.
Esse desempenho não pode ser imputado às opções de política econômica deste ou daquele futuro presidente. As dificuldades da economia, hoje, estão associadas ao ambiente internacional adverso e a limitações da atual política econômica. E isso de fato coloca dificuldades para a candidatura situacionista.
É sinal de amadurecimento do ambiente político e institucional brasileiro o fato de o governo e todos os principais pré-candidatos a presidente terem repudiado as opiniões pessimistas dos analistas econômicos estrangeiros. Resta ver se o "fair play" persistirá quando a temperatura da corrida presidencial subir.



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