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ALTAMENTE SUSPEITO
Altamente suspeito. Isso é o
mínimo que se pode dizer das
intermináveis exigências israelenses
que levaram o secretário-geral das
Nações Unidas, Kofi Annan, a desmantelar a missão que investigaria a
ocupação, por tropas de Israel, do
campo de refugiados palestinos de
Jenin, na Cisjordânia.
Entende-se que o histórico de relações conturbadas entre Israel e a
ONU tenha levado o governo do primeiro-ministro Ariel Sharon a procurar obter o que julgava ser salvaguardas. Compreende-se que Israel
tenha requerido a presença de militares especialistas em terrorismo no
comitê que iria a Jenin. Mas a sucessiva imposição de novas exigências a
cada vez que as anteriores eram atendidas sugere que o governo de Israel
não negociava seriamente.
Se o Exército israelense não cometeu nenhum massacre e não tem nada a esconder em Jenin, como sustenta o governo, então a ida da missão ao campo de refugiados deveria
ser uma prioridade para o Estado judeu. Seria uma oportunidade para
demonstrar ao mundo que as acusações palestinas não procedem. Mas,
quando o governo de Israel impõe
tantas condições às Nações Unidas
que acaba por inviabilizar a missão,
apenas dá argumentos aos que suspeitam que atrocidades tenham sido
cometidas em Jenin.
Se Israel vence todos os embates
militares que trava contra as forças
de segurança palestinas, o mesmo
não se pode afirmar da batalha pela
opinião pública mundial. Nesse
campo, Israel não parece sair-se tão
bem. A exceção talvez sejam os EUA,
onde autoridades e mídia ainda são
claramente pró-Israel.
Ao que parece, Ariel Sharon não está muito preocupado com o que o
mundo possa pensar de Israel. Ele
deve calcular que o apoio que importa é o dos norte-americanos, que Israel já tem e só muito dificilmente
perderá. É uma estratégia que pode
funcionar no curto prazo, mas que
trará dificuldades no futuro, quando
Israel tiver de sentar-se de novo para
negociar com os palestinos e sob
mediação internacional.
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