São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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ALTAMENTE SUSPEITO

Altamente suspeito. Isso é o mínimo que se pode dizer das intermináveis exigências israelenses que levaram o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a desmantelar a missão que investigaria a ocupação, por tropas de Israel, do campo de refugiados palestinos de Jenin, na Cisjordânia.
Entende-se que o histórico de relações conturbadas entre Israel e a ONU tenha levado o governo do primeiro-ministro Ariel Sharon a procurar obter o que julgava ser salvaguardas. Compreende-se que Israel tenha requerido a presença de militares especialistas em terrorismo no comitê que iria a Jenin. Mas a sucessiva imposição de novas exigências a cada vez que as anteriores eram atendidas sugere que o governo de Israel não negociava seriamente.
Se o Exército israelense não cometeu nenhum massacre e não tem nada a esconder em Jenin, como sustenta o governo, então a ida da missão ao campo de refugiados deveria ser uma prioridade para o Estado judeu. Seria uma oportunidade para demonstrar ao mundo que as acusações palestinas não procedem. Mas, quando o governo de Israel impõe tantas condições às Nações Unidas que acaba por inviabilizar a missão, apenas dá argumentos aos que suspeitam que atrocidades tenham sido cometidas em Jenin.
Se Israel vence todos os embates militares que trava contra as forças de segurança palestinas, o mesmo não se pode afirmar da batalha pela opinião pública mundial. Nesse campo, Israel não parece sair-se tão bem. A exceção talvez sejam os EUA, onde autoridades e mídia ainda são claramente pró-Israel.
Ao que parece, Ariel Sharon não está muito preocupado com o que o mundo possa pensar de Israel. Ele deve calcular que o apoio que importa é o dos norte-americanos, que Israel já tem e só muito dificilmente perderá. É uma estratégia que pode funcionar no curto prazo, mas que trará dificuldades no futuro, quando Israel tiver de sentar-se de novo para negociar com os palestinos e sob mediação internacional.


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