São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

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Insegurança e gás

A queda na expansão do uso de gás no Brasil afeta o interesse boliviano de ter um mercado seguro para seu maior produto

A INSEGURANÇA provocada pela nacionalização do gás na Bolívia já reduziu de maneira drástica a velocidade de expansão desse mercado no Brasil e estimulou os consumidores a buscarem alternativas ao combustível oferecido pelo país vizinho.
Apesar de terem caráter mais simbólico do que efetivo, a entrega de novos contratos a empresa estrangeiras que operam no país e as manifestações do presidente Evo Morales em defesa da nacionalização só reforçam a preocupação dos que, no Brasil, dependem das vendas bolivianas.
O uso de gás natural cresceu a uma média de 20% ao ano até 2004. No ano seguinte, o índice desacelerou para 8% e, em 2006, para 4%. A queda contraria o interesse boliviano de ter um mercado seguro para o gás que produz, mas é um claro efeito colateral do movimento pró-nacionalização que explodiu em 2005 e culminou em 2006 com o decreto que transferiu o controle da exploração de gás à estatal YPFB.
Outra provável reação à escalada estatizante na Bolívia será a queda de investimentos estrangeiros, com efeitos nefastos para a economia do mais pobre país da região. O próprio Morales reconheceu, nas celebrações de 1º de Maio, a dependência do país em relação ao capital externo. "Era impossível expulsar as empresas e confiscar. Não tínhamos dinheiro para investir. Da primeira e da segunda vez [em que isso ocorreu na Bolívia], pediram que as empresas voltassem."
A Petrobras detém o maior volume de investimentos estrangeiros no setor de gás na Bolívia e ainda há suspense sobre o impacto das decisões de Morales em suas operações. O presidente adiou para 15 de maio o anúncio da indenização que pagará à empresa por duas refinarias que passarão ao controle boliviano.
Abandonando a complacência que marcou sua reação aos movimentos de Morales, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transmitiu a seu colega a decisão de que não haverá mais investimentos na Bolívia se a Petrobras não for adequadamente compensada pela perda das refinarias.
A estatal enfrenta ainda incerteza na negociações com a Venezuela, outro país que marcou o 1º de Maio com a escalada de gestos e retórica nacionalizantes.
A Petrobras tem um acordo com a estatal venezuelana PDVSA para exploração de petróleo no campo Carabobo, na faixa do Orinoco, mas o projeto pode não sair do papel. As duas empresas não chegam a um consenso sobre o valor que a Petrobras terá de pagar à PDVSA pelas reservas de petróleo existentes no campo. A desavença coloca em risco outro empreendimento conjunto, o de uma refinaria no Estado de Pernambuco.
Diante de vizinhos tão instáveis, o governo brasileiro tem a obrigação de investir em fontes alternativas ao gás boliviano e de defender os interesses dos contribuintes e dos acionistas da Petrobras nos dois países.


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