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Insegurança e gás
A queda na expansão do uso de gás no Brasil afeta o interesse boliviano de ter um mercado seguro para seu maior produto
A INSEGURANÇA provocada pela nacionalização
do gás na Bolívia já reduziu de maneira drástica a velocidade de expansão
desse mercado no Brasil e estimulou os consumidores a buscarem alternativas ao combustível
oferecido pelo país vizinho.
Apesar de terem caráter mais
simbólico do que efetivo, a entrega de novos contratos a empresa
estrangeiras que operam no país
e as manifestações do presidente
Evo Morales em defesa da nacionalização só reforçam a preocupação dos que, no Brasil, dependem das vendas bolivianas.
O uso de gás natural cresceu a
uma média de 20% ao ano até
2004. No ano seguinte, o índice
desacelerou para 8% e, em 2006,
para 4%. A queda contraria o interesse boliviano de ter um mercado seguro para o gás que produz, mas é um claro efeito colateral do movimento pró-nacionalização que explodiu em 2005 e
culminou em 2006 com o decreto que transferiu o controle da
exploração de gás à estatal YPFB.
Outra provável reação à escalada estatizante na Bolívia será a
queda de investimentos estrangeiros, com efeitos nefastos para
a economia do mais pobre país
da região. O próprio Morales reconheceu, nas celebrações de 1º
de Maio, a dependência do país
em relação ao capital externo.
"Era impossível expulsar as empresas e confiscar. Não tínhamos
dinheiro para investir. Da primeira e da segunda vez [em que
isso ocorreu na Bolívia], pediram
que as empresas voltassem."
A Petrobras detém o maior volume de investimentos estrangeiros no setor de gás na Bolívia e
ainda há suspense sobre o impacto das decisões de Morales
em suas operações. O presidente
adiou para 15 de maio o anúncio
da indenização que pagará à empresa por duas refinarias que
passarão ao controle boliviano.
Abandonando a complacência
que marcou sua reação aos movimentos de Morales, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva transmitiu a seu colega a decisão de
que não haverá mais investimentos na Bolívia se a Petrobras não
for adequadamente compensada
pela perda das refinarias.
A estatal enfrenta ainda incerteza na negociações com a Venezuela, outro país que marcou o 1º
de Maio com a escalada de gestos
e retórica nacionalizantes.
A Petrobras tem um acordo
com a estatal venezuelana
PDVSA para exploração de petróleo no campo Carabobo, na
faixa do Orinoco, mas o projeto
pode não sair do papel. As duas
empresas não chegam a um consenso sobre o valor que a Petrobras terá de pagar à PDVSA pelas
reservas de petróleo existentes
no campo. A desavença coloca
em risco outro empreendimento
conjunto, o de uma refinaria no
Estado de Pernambuco.
Diante de vizinhos tão instáveis, o governo brasileiro tem a
obrigação de investir em fontes
alternativas ao gás boliviano e de
defender os interesses dos contribuintes e dos acionistas da Petrobras nos dois países.
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