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CLÓVIS ROSSI
Comandantes comandados
PARIS - Uma coisa é o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva anunciar,
faz já quatro anos, a iminência do
espetáculo do crescimento sem que
o show jamais tenha sido encenado.
Outra coisa, bem mais grave, é seu
colega George Walker Bush, também faz quatro anos, falar em "missão cumprida", em relação à Guerra
do Iraque, apenas para que, no
quarto aniversário do anúncio, o líder da maioria democrata, Harry
Reid, diga o contrário: "A guerra está perdida".
Estabelecida a diferença, passemos às semelhanças.
Semelhança 1 - Governos mentem. Faz muito tempo que o fazem,
mas não deixa de ser surpreendente que continuem a fazê-lo -e até
aumentem o tamanho das mentiras- em plena era da informação,
que, supostamente, tudo devassa.
Semelhança 2 (e mais grave)
-Quando não mentem por iniciativa própria, o fazem porque seus assessores mentem para eles. Caso de
Lula: leigo em economia, jamais se
animaria a anunciar o espetáculo
do crescimento se algum "aspone"
de grosso calibre não lhe tivesse soprado algo a respeito.
No caso de Bush, o livro de George Tenet, ex-chefe da CIA na época
dos atentados do 11 de Setembro e
da Guerra do Iraque, mostra um
formidável círculo de assessores
contando ao chefe mentiras sobre o
vínculo entre a Al Qaeda e Saddam
Hussein, para não falar das tais armas de destruição em massa.
Parece haver aí uma conclusão
inescapável: as máquinas governamentais, ao menos em países grandes (ricos ou emergentes, não importa), escaparam ao controle dos
eleitores e, pior ainda, de seus próprios chefes.
Como mesmo os mais aplicados
não conseguem saber de tudo -seja
sobre a economia interna, seja sobre a situação em outro país-, não
governam de fato. Reagem a comandos. Pode até dar certo, mas o
risco é formidável, como o demonstra o Iraque.
crossi@uol.com.br
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