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RUY CASTRO
"Recall" de políticos
RIO DE JANEIRO - Uma montadora de carros no Brasil mandará
recolher mais de 100 mil veículos
de um modelo fabricado por ela, de
abril de 2008 até hoje, por causa de
um problema na presilha que fixa o
tapete do motorista no assoalho do
carro. O tapete estaria sujeito a deslizar e travar o acelerador, provocando aceleração repentina e involuntária do carro e o tornando sujeito a graves acidentes, como já
aconteceu.
O nome disto é "recall -chamar
de volta, revogar, anular-, e não
acontece porque a empresa é boazinha, mas porque foi pressionada
por denúncias de consumidores ao
Procon e ao Ministério da Justiça.
Dá a impressão de que o cidadão
agora é ouvido e tem seus direitos
respeitados, ao contrário do passado, em que, se algum produto se escangalhasse com facilidade, o comprador que se queixasse ao bispo, o
qual tinha mais o que fazer.
Esse conceito poderia se alargar e
se aplicar também aos políticos.
Quando o eleitor sentisse que seu
representante tivesse se esquecido
dos compromissos de campanha
pelos quais fora eleito, deveria poder revogar seu próprio voto, anulando-o. Se isso fosse feito em número suficiente, o político seria
obrigado a devolver o cargo ou o
mandato.
Você dirá que as eleições são para
isso mesmo, e nada impede o eleitor
de negar o seu voto ao político no
pleito seguinte, ajudando a derrotá-lo. Mas não sejamos ingênuos. Uma
vez no controle da máquina, os políticos tendem a se reeleger e a se
eternizar na carreira, submetendo-se apenas a uma dança de cadeiras
no Congresso, nos ministérios e nos
vários níveis da administração.
Tendo elegido os bichos uma vez,
nunca mais conseguimos nos livrar
deles. Os partidos, em vez de promover rigorosos "recalls" periódicos, preferem varrer seus podres
para debaixo do tapete.
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