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Euforia e cautela
Morte de Osama bin Laden aumenta prestígio interno de Barack Obama, mas efeitos sobre ações terroristas contra países ocidentais são incertos
Em operação de inteligência
que durou oito meses, destacada
da guerra travada há quase dez
anos no vizinho Afeganistão, forças especiais americanas localizaram e mataram o terrorista saudita
Osama bin Laden em fortaleza a
cerca de 50 km de Islamabad, capital do Paquistão.
A eliminação do mentor do 11 de
Setembro -com quase 3.000 vítimas, o mais letal ataque estrangeiro nos EUA- foi comemorada no
país com constrangedora euforia,
a quatro meses do décimo aniversário dos atentados. O desfecho
deixa, contudo, mais dúvidas que
certezas sobre consequências para o terrorismo de inspiração islâmica fundamentalista e para a política exterior norte-americana.
Por ora, é mais fácil constatar o
efeito, nos EUA, sobre o prestígio
político de Barack Obama, que
acaba de lançar sua candidatura à
reeleição em 2012. Com aprovação
prejudicada pela recuperação lenta da economia, o presidente vinha sendo encurralado por uma
oposição radicalizada, que no ano
passado conquistou a maioria da
Câmara dos Deputados.
Com a estagnação no front afegão e a incerteza trazida pelas rebeliões árabes, Obama era acusado de ser um comandante em chefe titubeante e fraco. Ao anunciar
a morte de Bin Laden, ele reivindicou o sucesso da persistência na
busca do terrorista e conclamou à
volta do "sentido de unidade" que
tomou o país dez anos atrás.
Obama foi sóbrio o suficiente,
porém, para não declarar vitória
final em seu pronunciamento.
Osama bin Laden ainda era o
"líder espiritual" da Al Qaeda, rede terrorista que, invocando uma
vaga unificação islâmica na guerra aos "infiéis", quis capitalizar a
frustração de povos muçulmanos
contra governos autoritários e corruptos, submetidos ao domínio de
países ocidentais.
A Al Qaeda, no entanto, há anos
se tornou uma espécie de franquia, em que filiais no Oriente Médio, no norte da África, na Ásia e
no Cáucaso operam com independência relativa. Com o cerco a células terroristas no Ocidente, depois dos atentados de Madri
(2004, 192 mortos) e Londres
(2005, 52 mortos), ataques de impacto decrescente se concentraram em países muçulmanos.
Essa é considerada uma das razões para o declínio do apelo do
discurso fundamentalista, que esteve ao largo das revoltas atuais
de populações árabes.
É difícil, porém, predizer que a
morte de Bin Laden vá acarretar
redução do terrorismo. Na realidade, países ocidentais se preparam
para um recrudescimento inicial.
Mas ela repõe duas dúvidas sobre
a "guerra ao terror".
A primeira diz respeito a intervenções militares e ocupações
prolongadas. A derrubada do Taleban no Afeganistão retirou
apoio importante para a Al Qaeda,
mas foi uma ação focalizada que
levou à morte do terrorista.
A segunda se refere à relação
entre os EUA e o Paquistão. A planejada retirada de forças americanas da região deixaria aberto o
flanco representado pela proximidade do serviço secreto paquistanês com grupos terroristas.
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