São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Década de Osama?

SÃO PAULO - "Em 10 de setembro de 2001, o terrorismo internacional praticado por fanáticos religiosos não era considerado um tópico especialmente importante. (...) Depois das 8h46 do dia seguinte, horário de Nova York, esse tipo de terrorismo foi transformado no único assunto de interesse."
Depois de dizer isso, Bill Emmott, editor-chefe da revista "The Economist" entre 1993 e 2006, conclui em seu livro "Lições do Século 20 para o Novo Milênio": "A verdade sobre aquele episódio singular, vista em retrospecto, é que nem a visão do 10 de setembro nem a do 12 de setembro estavam corretas".
O raciocínio serve para a morte de Bin Laden, subproduto do 11 de Setembro, quase dez anos depois.
Os Estados Unidos estão eufóricos. Barack Obama deu ao acontecimento grande relevo histórico e patriótico. Elogiou Bush, apelou ao sentido de unidade nacional e fez questão de repisar em seu discurso: "eu fiz", eu orientei", "eu mandei".
É certo que o cadáver de Osama catapulta a popularidade de Obama. Fora isso, nada indica que o mundo ficou "melhor e mais seguro", como ele quer. A importância do assassinato de Bin Laden é simbólica. Até nos EUA especialistas dizem que a rede da Al Qaeda não dependia mais de seu mentor.
Olhando para a década em retrospectiva, vale perguntar: o 11 de Setembro marcou a ascensão do fundamentalismo islâmico em sua cruzada contra o Ocidente? Ou foi, pelo contrário, o capítulo mais trágico da radicalização final e sintomática de um movimento declinante (responsável ainda pelos atentados de Madri e de Londres)?
O que se passa hoje no mundo árabe aponta para isso. Governos balançam e ditadores caem pela pressão das ruas, mas não há nenhum sinal de avanço do fundamentalismo. Pelo contrário, parece estar em curso naquela região uma espécie de "revolução burguesa", pró-capitalista, muito mais significativa dos ventos da história do que a morte de Osama, "o cara".


Texto Anterior: Editoriais: A mensagem do censo

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: E eu com isso?
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.