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MATAR E ESQUARTEJAR
Autoridades governamentais
têm sido pródigas em criar
imagens para ilustrar as questões
econômicas que afligem o país. A
mais recente veio do ministro Antonio Palocci: é preciso "matar e esquartejar a inflação". Todos sabem
quanto de desorganização econômica e de malefícios sociais o processo
inflacionário é capaz de produzir. A
experiência brasileira foi perversamente rica em exemplos nesse sentido. Com todas as distorções que o
Real impôs à economia, é inegável
seu papel histórico na interrupção de
uma escalada de aumentos de preços
que parecia não ter fim. Como ficou
patente, porém, desde a mudança do
regime cambial, em 1999, não se pode considerar que a guerra contra a
inflação tenha sido completamente
vencida -na realidade, o combate
precisa ser permanente.
Há quem queira ver nas críticas endereçadas à atual política do Banco
Central um irresponsável desprezo
pelo controle da inflação, como se os
riscos da disparada de preços estivessem esquecidos. Diante da herança
recebida pelo atual governo, que chegou ao Planalto em meio a fortes desconfianças e a um grande movimento especulativo, era absolutamente
sensato fazer o que foi feito.
O que está em questão não é se a inflação deve ou não ser combatida,
mas a eficácia do tratamento no atual
estágio de contração econômica, desemprego recorde e claro declínio
dos índices de aumento de preços. A
permanência da inflação é um fato,
mas nada indica que a manutenção
da taxa de juros nos atuais patamares
seja o remédio recomendável. Afinal,
menos do que as reindexações salariais, o que parece nítido na formação dos índices mais recentes são os
efeitos das tarifas públicas e preços
administrados -e contra eles os juros estratosféricos são ineficazes.
É claro que sempre é possível levar
a economia para uma forte recessão,
estrangulando o consumo, gerando
mais desemprego, provocando quebradeiras e os efeitos nefastos que todos conhecem. Nesse caso, a título
de "matar e esquartejar" a inflação,
quem será abatida é a atividade econômica como um todo, com gravíssimos e inúteis custos sociais.
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