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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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MATAR E ESQUARTEJAR

Autoridades governamentais têm sido pródigas em criar imagens para ilustrar as questões econômicas que afligem o país. A mais recente veio do ministro Antonio Palocci: é preciso "matar e esquartejar a inflação". Todos sabem quanto de desorganização econômica e de malefícios sociais o processo inflacionário é capaz de produzir. A experiência brasileira foi perversamente rica em exemplos nesse sentido. Com todas as distorções que o Real impôs à economia, é inegável seu papel histórico na interrupção de uma escalada de aumentos de preços que parecia não ter fim. Como ficou patente, porém, desde a mudança do regime cambial, em 1999, não se pode considerar que a guerra contra a inflação tenha sido completamente vencida -na realidade, o combate precisa ser permanente.
Há quem queira ver nas críticas endereçadas à atual política do Banco Central um irresponsável desprezo pelo controle da inflação, como se os riscos da disparada de preços estivessem esquecidos. Diante da herança recebida pelo atual governo, que chegou ao Planalto em meio a fortes desconfianças e a um grande movimento especulativo, era absolutamente sensato fazer o que foi feito.
O que está em questão não é se a inflação deve ou não ser combatida, mas a eficácia do tratamento no atual estágio de contração econômica, desemprego recorde e claro declínio dos índices de aumento de preços. A permanência da inflação é um fato, mas nada indica que a manutenção da taxa de juros nos atuais patamares seja o remédio recomendável. Afinal, menos do que as reindexações salariais, o que parece nítido na formação dos índices mais recentes são os efeitos das tarifas públicas e preços administrados -e contra eles os juros estratosféricos são ineficazes.
É claro que sempre é possível levar a economia para uma forte recessão, estrangulando o consumo, gerando mais desemprego, provocando quebradeiras e os efeitos nefastos que todos conhecem. Nesse caso, a título de "matar e esquartejar" a inflação, quem será abatida é a atividade econômica como um todo, com gravíssimos e inúteis custos sociais.


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