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BALCÃO PRAGMÁTICO
Até que ponto é possível alcançar objetivos elevados rebaixando os métodos para conquistá-los? Em que medida os fins perseguidos podem ser comprometidos pelos meios empregados para atingi-los? Não são questões novas, mas
certamente o PT deveria estar preocupado com elas. O grau de "realismo político" com que a nova administração vai construindo sua base
parlamentar é ao mesmo tempo admirável e preocupante.
É admirável pela objetividade e
presteza com que a Casa Civil aglutina novas hostes parlamentares com
vistas a reduzir as turbulências na
aprovação das reformas. É preocupante pela aceitação, sem hesitações,
de um jogo de troca de apoios por
cargos e emendas, cujas implicações
futuras dificilmente serão tão pacífico como podem sugerir os sorrisos e
afagos iniciais.
De fato, o histórico da formação de
maiorias congressuais no Brasil tem
sido marcado por lamentáveis desvios fisiológicos. Se é parte da política costurar alianças parlamentares, e
se é previsível que tais alianças tenham como contrapartida o compartilhamento da administração, os
aspectos nefastos desse processo são
o loteamento indiscriminado da máquina pública e aquilo que se conhece como "balcão". No primeiro caso,
compromete-se a eficiência técnica,
quando não a lisura, da administração pública. No segundo, é franqueada, no varejo, uma atividade de
"compra e venda" de apoios que o
preço inicial da negociação -a distribuição de cargos e de verbas - já
não paga mais.
São grandes, portanto, os riscos de
que compromissos históricos do PT
estejam, também neste quesito, sendo convenientemente deixados de lado, em nome de um objetivo
"maior". A necessária, mas nunca
realizada, reforma política parece já
estar, a essa altura, comprometida.
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