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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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BALCÃO PRAGMÁTICO

Até que ponto é possível alcançar objetivos elevados rebaixando os métodos para conquistá-los? Em que medida os fins perseguidos podem ser comprometidos pelos meios empregados para atingi-los? Não são questões novas, mas certamente o PT deveria estar preocupado com elas. O grau de "realismo político" com que a nova administração vai construindo sua base parlamentar é ao mesmo tempo admirável e preocupante.
É admirável pela objetividade e presteza com que a Casa Civil aglutina novas hostes parlamentares com vistas a reduzir as turbulências na aprovação das reformas. É preocupante pela aceitação, sem hesitações, de um jogo de troca de apoios por cargos e emendas, cujas implicações futuras dificilmente serão tão pacífico como podem sugerir os sorrisos e afagos iniciais.
De fato, o histórico da formação de maiorias congressuais no Brasil tem sido marcado por lamentáveis desvios fisiológicos. Se é parte da política costurar alianças parlamentares, e se é previsível que tais alianças tenham como contrapartida o compartilhamento da administração, os aspectos nefastos desse processo são o loteamento indiscriminado da máquina pública e aquilo que se conhece como "balcão". No primeiro caso, compromete-se a eficiência técnica, quando não a lisura, da administração pública. No segundo, é franqueada, no varejo, uma atividade de "compra e venda" de apoios que o preço inicial da negociação -a distribuição de cargos e de verbas - já não paga mais.
São grandes, portanto, os riscos de que compromissos históricos do PT estejam, também neste quesito, sendo convenientemente deixados de lado, em nome de um objetivo "maior". A necessária, mas nunca realizada, reforma política parece já estar, a essa altura, comprometida.


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