|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O poder e o crime
RIO DE JANEIRO - Não sei não.
Acho que deve ser o espírito de porco que toma conta de mim e que me
obriga a ser sempre do contra, duvidando de tudo, das verdades estabelecidas e, sobretudo das meias
verdades, chegando ao ponto de duvidar até mesmo das mentiras.
Procuro ler atentamente a transcrição de conversas telefônicas que
são divulgadas pela imprensa, provando o suposto comprometimento de autoridades com ações criminosas. Sinceramente, leio e releio
os trechos assinalados como indicativos de tramóia, mas, fora do contexto, não consigo formar uma opinião a respeito.
Outro dia, o Janio de Freitas disse em seu artigo mais ou menos o
que estou dizendo. Os diálogos
grampeados podem ser interpretados de muitas maneiras. Mesmo
dando o desconto dos códigos usados nessas conversas, a coisa fica
meio nebulosa. Raramente são dados os nomes dos bois e dos movimentos gerais da boiada. No máximo, apanham-se dois ou três novilhos desgarrados.
Lembro um caso ocorrido no governo de FHC que provocou a demissão espalhafatosa de duas altas
autoridades do sistema financeiro.
Em algumas gravações, era ouvida a
própria voz do presidente da República, num diálogo com um de seus
auxiliares mais próximos, que acabou saindo do governo coberto de
graves suspeitas.
Também no caso da violação do
painel do Senado, ainda no governo
de FHC, apareceram gravações em
que o presidente seria o beneficiário das informações obtidas de modo ilegal. Apareceram bodes expiatórios e tudo ficou por isso mesmo.
Evidente que entre o céu e a terra
existem muitas coisas além dos
aviões de carreira (Shakespeare &
Barão de Itararé). Há uma certeza
absoluta sobre a corrupção do poder e a impunidade do crime. Simplificando: o crime acaba sendo o
próprio poder.
Texto Anterior: Albuquerque - Eliane Cantanhêde: Em busca de um "cowboy" Próximo Texto: Marcos Nobre: De híbridos e mutantes Índice
|