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O fim de um ciclo
ATÉ ENTRAR em concordata,
ser dividida e adquirida
pelo governo Obama, anteontem, a General Motors era
um raro sobrevivente de uma
época dourada do capitalismo e
da sociedade americanas.
A operação de resgate, para alguns, marcaria o auge da retomada do papel do Estado na economia, após anos de pregação ultraliberal. Vem, decerto, ao socorro
de uma prática empresarial que
sucumbiu -justamente nas últimas três décadas de desregulamentação e atrofia do poder sindical- à hiperconcorrência.
A GM americana não foi à lona
porque tenha escolhido, equivocadamente, fabricar modelos de
automóveis grandes e beberrões.
O consumidor americano continuou a comprar os carros da
companhia, líder em vendas nos
EUA. O problema fundamental
foram os custos exorbitantes
acumulados pelo modelo de negócios da montadora.
Com 92 mil empregados concentrados no Meio-Oeste americano, a empresa tem compromissos, só em pagamento de
aposentadoria, com 500 mil pessoas. Esses custos, herdados de
uma era em que os sindicatos
eram muito poderosos, o uso de
mão de obra, mais intensiva, e a
concorrência, bem menor, se
mostraram incompatíveis com a
realidade das últimas décadas.
Montadoras estrangeiras, sobretudo asiáticas, passaram a
instalar plantas em outras regiões dos EUA, como o Sul. Mais
flexíveis -na tecnologia, no projeto das fábricas e nas relações
trabalhistas-, impuseram um
patamar de preços que o modelo
tradicional não poderia acompanhar sem acumular dívidas.
Ao empenhar US$ 50 bilhões
no salvamento de uma parte menor da GM, tida como "saudável", a gestão Obama não inovou.
"Os fundos poderiam ser gastos
de modo mais produtivo para
ajudar o Meio-Oeste a reduzir
sua dependência da indústria automobilística", escreveu Robert
Reich, que foi secretário do Trabalho de Bill Clinton.
Reich, ele mesmo nostálgico
dos tempos em que grandes empresas dividiam com o governo
americano a provisão do bem-estar social, não nutre ilusões acerca de um retorno aos paradigmas
do passado. De fato, nada indica
que a hiperconcorrência, fator
crucial para o fim de um ciclo
empresarial centenário na GM,
vá arrefecer. Pelo contrário.
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