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TERRA SEM LEI
Em campanha , Luiz Inácio Lula da Silva apresentou-se ao eleitorado como o único candidato capaz de realizar uma reforma agrária
pacífica no Brasil. No poder, tal promessa não apenas vai deixando de
ser cumprida, como dá lugar a realidade diametralmente oposta.
Decorrido um semestre de mandato, assiste-se a uma escalada de invasões, que já superam em número as
de todo o ano passado -agora
acrescidas de novas modalidades,
como a tomada de praças de pedágio. Seguidos alertas foram ignorados pelas autoridades. Mesmo quando o ouvidor agrário nacional veio a
público, há pouco menos de um
mês, afirmar que jamais vira clima de
tensão semelhante ao atual, o governo optou por manter a dubiedade como padrão de comportamento.
Diante dos microfones, as autoridades afiançam compromissos com
o cumprimento da lei. Na prática, ela
é violada sistematicamente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, sem que o poder público
tome providência. Contribui decisivamente para o clima de radicalização o fato de que Brasília tenha emitido sinais contrários à medida provisória, editada na gestão anterior,
que, na prática, afasta do processo de
reforma agrária as terras invadidas.
Até aqui, a proximidade histórica entre Partido dos Trabalhadores e MST
serviu apenas para insuflar invasões
e lotear a máquina pública entre representantes dos movimentos sociais que atuam na área.
Na terça-feira, lavradores ligados
ao MST desviaram quatro caminhões de uma rodovia estadual em
Pernambuco, saquearam um deles e
tomaram quatro reféns. Na esteira
do episódio, o Planalto antecipou para ontem uma reunião que agendara
com líderes do movimento.
Causa estranheza que a estratégia
escolhida tenha sido a de reunir o
presidente da República com lideranças que não apenas atuam de forma ilegal como se gabam publicamente de fazê-lo. O fato de o presidente ter vestido o boné do MST foi
de uma impropriedade a toda prova.
Impossível não entender o gesto como uma descabida declaração de
simpatia ao movimento.
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