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ELIANE CANTANHÊDE
A peça que faltava
BRASÍLIA - Cai o último grande
mistério da queda do Gol 1907: os
pilotos Joe Lepore e Jan Paladino
desligaram involuntariamente o
transponder, aparelho que, se operante, teria salvado 154 vidas.
O Legacy era novo, acabava de
sair da Embraer. Lepore tinha pilotado aviões semelhantes, e ele e Paladino haviam treinado em simuladores, mas a caixa-preta mostra que
tinham pouco conhecimento do
aparelho, das regras de aviação no
Brasil e até da carta aeronáutica.
Um dos dois confundiu o rádio e o
transponder e digitou códigos de
freqüência no transponder. Resultado: o rádio não recebia nem
transmitia ligações para os controles em terra, e o transponder desligou. Um erro fatal. E só depois do
choque os pilotos se deram conta.
A queda do Gol 1907 é uma seqüência inacreditável de falhas humanas e de coincidências. Os pilotos e o controlador de São José dos
Campos (origem do vôo) não se entenderam, e o Legacy seguiu numa
só altitude, quando o plano de vôo
previa três. Os controladores de
Brasília tiveram tempo para corrigir o erro, mas estavam distraídos.
Era hora da troca de turno.
Depois, houve várias tentativas
inúteis de contato por rádio. Nem
os pilotos digitaram o código de falta de comunicação nem os controladores acionaram o Cindacta-4, de
Manaus, para que desviasse o Gol
-que costumava voar em 41 mil
pés, não em 37 mil, como naquele
dia. E o choque foi num ponto em
que o Legacy saía do Cindacta-1 para o 4, e o Boeing, o contrário.
Mesmo com todas essas falhas e
coincidências, o acidente teria sido
certamente evitado caso o transponder estivesse acionado. Não estava, e houve o maior acidente da
história da aviação civil no Brasil,
com todas as suas conseqüências.
Com o fim do mistério do transponder, a comissão aeronáutica deve anunciar suas conclusões já no
próximo mês. E aí começa uma outra guerra, a judicial.
elianec@uol.com.br
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