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ELIANE CANTANHÊDE
Fim do Senado
BRASÍLIA - Pela Constituição, vige no Brasil um sistema de independência entre os Poderes. Na
prática, não passa de balela. Quem
manda hoje no Senado é o presidente da República.
José Sarney perdeu o apoio do
DEM, do PSDB, do PDT e do PT para permanecer na presidência do
Senado. Mas, no auge do seu isolamento, Lula saiu da retórica e veio
em seu socorro na prática. O mesmo Lula que deixou à deriva companheiros petistas como Dirceu,
Palocci, Genoino, Delúbio, mensaleiros e aloprados, agora joga a boia
de salvação para Sarney. Reverteu
assim a decisão da bancada petista
de pedir o afastamento de Sarney.
Não foi por amizade que Lula interveio, nem por preocupação com
as instituições ou com o Senado especificamente. Foi por cálculo político. No fundo, ele dá de ombros para o Congresso e para atos secretos,
empreguismo, verbas indenizatórias. Mas tem profundo interesse
em evitar a CPI da Petrobras agora
e em garantir a aliança do PMDB
com Dilma em 2010.
Lula não defendeu Sarney. Defendeu-se. Desprezou o discurso
pela ética em favor do aliado e ontem foi jantar com os senadores petistas para exigir, com boa lábia, que
façam o mesmo. Seu argumento é
igual ao de Sarney: aquela sequência de confusões entre público e privado são bobagens, tudo não passa
de uma "guerra política" criada pela
oposição e pela imprensa. Acredita
quem quer.
Se a renúncia de Sarney parecia
iminente, agora parece improvável.
Mas é cedo para apostar. Nunca se
pode descartar um "fato novo", na
forma de netos, cunhadas, mordomos e contratos. E Sarney é experiente o bastante para saber que Lula pode enquadrar o PT, mas não
pode impedir que petistas continuem trabalhando contra ele.
O dramático é que, se Sarney sai,
a crise fica. E se Sarney fica, a crise
continua. Quem vai acreditar um
milímetro na seriedade das sindicâncias internas? As raposas estão
cuidando do galinheiro.
elianec@uol.com.br
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