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JOSÉ SARNEY
Pinotti, um vazio que fica
NERUDA, quando Silvestre
Revueltas morreu, disse
num verso forte que sua impressão era que um carvalho tinha
tombado no meio do tempo. Essa é
a sensação que temos quando perdemos um amigo que não era só
uma ligação sentimental, mas um
homem que carregava qualidades e
virtudes que envolvem nessa perda
a sociedade, o patrimônio humano
do País.
O professor Pinotti era um desses homens que não somente cultivava o gosto da convivência mas tinha uma personalidade de muitas
faces, todas de grande expressão.
Em primeiro lugar, o médico que
envolvia sua profissão com o destino das pessoas e compreendia o
quanto a saúde representa para a
felicidade de todos, sentindo mais
os que têm acesso à assistência médica. Mesclava em sua clínica o
atendimento de ricos com o dos
que não tinham meios, não como
exercício da caridade, mas como
um dever profissional.
Tinha excepcional capacidade
como clínico e cirurgião, uma das
maiores da medicina brasileira de
todos os tempos. Ouvi de um colega seu que vê-lo operar era como
assistir a um virtuoso pianista, tal a
habilidade de suas mãos. Fazia sua
arte com arte.
Outra faceta era do educador, do
professor, do conferencista, de homem atualizado com o seu tempo,
renovando-se sem parar. Seu nome não era restrito ao Brasil, tinha
fama internacional, com especialização e sendo professor na Europa.
Reitor da Unicamp, fez obra gigantesca de renovação. Intelectual, escreveu 37 livros sobre todos os aspectos da ciência médica, sem faltar na sensibilidade de eternizar
sentimentos, os livros de poesia.
Publicou mais de 1.300 artigos
científicos e duas teses. Uma técnica cirúrgica ganhou seu nome.
Outra face era a do homem público, que estava na política para
expor ideias, de preferência os temas de saúde e de educação. Mas
não era só o teórico, era o construtor. Foi o primeiro a implantar o
SUS no Brasil -no Estado de São
Paulo-, sendo um dos nossos mais
importantes formuladores de política previdenciária.
Era um homem de extraordinária inteligência, um cidadão exemplar, um pai de família padrão e um
expositor incomparável.
Inúmeras famílias no Brasil tiveram uma mulher sua cliente. A ele
devo uma parte da vida de minha
filha, a que sempre acompanhou
como um pai. Era santo de altar em
minha casa. Mas fica como marco
de sua obra o quanto amou o seu
trabalho pela saúde da mulher,
principal objetivo de sua vida, advogando a prevenção e criando o
Hospital da Mulher. Quando morre um homem como o professor Pinotti, ficamos menores em nossa
paisagem humana e de valores.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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