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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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O MURO DE SHARON

Em encontro com o presidente George W. Bush na Casa Branca, o premiê Ariel Sharon reiterou na terça-feira que Israel continuará a construir a barreira entre seu território e as terras palestinas.
Muro em alguns trechos, cerca eletrificada em outros, a obra teve início há um ano e deverá estender-se por 350 km. Por incorporar ao lado israelense parte dos assentamentos judaicos situados em território palestino, ela é considerada um dos principais entraves à recém-nascida negociação de paz patrocinada por Washington.
Israel argumenta que a Autoridade Nacional Palestina nada tem feito para desmantelar grupos extremistas, uma das exigências do "mapa da estrada". O muro seria, então, necessário para dificultar a entrada de terroristas em território israelense.
Os palestinos, por sua vez, entendem o projeto como uma anexação de terras. Reportagem do "Financial Times" reproduzida pela Folha na quarta-feira estima em 10% a perda de território da Cisjordânia com o traçado da obra. Esse texto chama a atenção para os problemas criados pelo muro a partir do exemplo de Nu'man, pequena aldeia palestina muito próxima à colônia judaica de Har Homa. Quando a construção for concluída, os moradores de Nu'man estarão do lado israelense, mas sem direito de lá permanecer.
Respaldado por amplo apoio popular à edificação, Sharon enfrenta, no entanto, a desaprovação, ora clara, ora velada, dos EUA, que não querem ver seu plano de paz desmoronar ainda nos estágios iniciais.
Ao receber na semana passada o premiê palestino, Mahmoud Abbas, mais conhecido como Abu Mazen, Bush criticou abertamente a obra israelense. Não repetiu a dose ao lado de Sharon, mas, no que foi entendido como uma referência ao muro, afirmou que o premiê deve "considerar cuidadosamente todas as consequências das ações de Israel".
"A cerca fortalecerá a segurança", disse Sharon. "E a segurança ajuda a alcançarmos a paz." Dois dias depois dessa declaração, o premiê anunciou a expansão do maior assentamento judaico na faixa de Gaza. Não obstante a necessidade israelense de se defender, é altamente improvável, para não dizer impossível, que o muro venha a contribuir para a paz. Simultaneamente à contenção da violência de ambos os lados, avanços mais efetivos nessa direção exigem o desarmamento das organizações terroristas e a retirada -não o avanço- das forças e dos colonos de Israel dos territórios ocupados.


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