São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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MARCHA LENTA

Em 1999 o Plano Plurianual (PPA) Avança Brasil sucedeu o Brasil em Ação. Apesar do esforço publicitário de tentar convencer o público de que o país, enfim, se movimentava para romper a estagnação nos investimentos estratégicos, os resultados do Avança Brasil, como os de seu antecessor, foram pífios. Dos 387 projetos que constavam do programa, o governo, agora, tenta conferir prioridade na liberação de verbas a apenas 24 (6%).
Dois pressupostos presentes no PPA foram derrotados. O primeiro, de que a estabilização econômica fora assegurada no primeiro mandato de FHC e que, portanto, o país poderia implementar agenda de desenvolvimento em bases sólidas. O segundo, de que capitais privados viriam como que por gravidade ajudar a suprimir gargalos na infra-estrutura.
A fragilidade e os altos custos da estabilização mediante câmbio fixo e juros escorchantes já eram evidentes no lançamento do Avança Brasil. A política do real forte sucumbiu em janeiro de 99, revelando os seus enormes passivos fiscais e deteriorando a capacidade de investimento do setor público. A progressiva diminuição do crédito externo, num contexto de taxas de juros domésticas ainda altas, também acabou por minar a capacidade financeira do setor privado.
A ausência de investimentos públicos não foi suficientemente suprida pela afluência de capital privado. Maior exemplo disso foi a crise na produção e na distribuição de energia elétrica que culminou no racionamento do ano passado e que ceifou, segundo alguns cálculos, algo em torno de dois pontos percentuais de crescimento do PIB.
O malogro do PPA, portanto, não se revela apenas mais uma promessa de campanha que não foi cumprida. É uma evidência de que a estabilização macroeconômica ainda está por ser completada no Brasil e de que investimentos em infra-estrutura que deixam de ser feitos -por uma gestão fiscal de má qualidade ou por uma regulação mal feita- se tornam vetores que, no futuro, solapam o crescimento econômico.



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