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TENDÊNCIAS/DEBATES
Seguro contra especuladores
JAIME LERNER
Como todos os países modernos,
temos uma economia de mercado,
não uma sociedade de mercado. Os brasileiros não são commodities. Jamais serão massa passiva neste vasto cassino de
baralhos marcados e roletas viciadas.
Estamos assistindo, há sete semanas, a
um ataque especulativo contra a nossa
moeda, o real. Nesse período, a estratégia dos atacantes ficou clara. O lance
maior é ignorar indicadores positivos
da nossa economia. Tarefa que não foi
fácil para os interessados em derrubar o
real. Tiveram que esconder números
confiáveis que mostram o cumprimento das metas fiscais, a diminuição do desemprego e o superávit da balança comercial. Preferiam apoiar análises (na
maioria dos casos vindas de analistas
não identificados) que magnificavam
aspectos não consolidados do processo
eleitoral.
Como amparar uma recomendação
de que o Brasil não é confiável, baseada
em pesquisas eleitorais realizadas antes
mesmo do início da propaganda gratuita no rádio e na TV? Basta observar o
que tem acontecido nas últimas eleições
para avaliar o grau de "inconfiabilidade" de análises que não consideram a
velocidade do processo eleitoral. Uma
pesquisa é apenas um retrato instantâneo, que não sobrevive ao tempo. Uma
imagem que sofrerá modificações
quando os mais de 100 milhões de eleitores puderem tomar decisões baseadas
em opções claras quanto às políticas públicas oferecidas.
Essas agências que publicam taxas de
risco não passam de instrumentos nas
mãos dos interessados em influir sobre
investidores internacionais. Uma bem
criada onda de desconfiança resulta em
mudanças de posições: vendas de ativos
mobiliários em um país e compra dos
mesmos ativos em outro país.
Não é preciso ser um secreto analista
da Standard & Poor's, Moody's ou Fitch
para saber que, no mundo moderno,
ninguém guarda mais dinheiro embaixo do colchão. E é nessa troca de posições que os intermediários ganham comissões, na volta e na ida do dinheiro.
Para malográ-los, nada melhor que
uma política pública de transparência
quanto aos nossos indicadores econômicos. E isso tem sido feito com eficiência pelo presidente e sua equipe econômica nas últimas semanas.
A desvalorização da moeda nacional
preocupa e muito por suas consequências imediatas. A primeira faixa de renda a ser atingida é a que inclui dezenas
de milhões de brasileiros: os que ganham mensalmente até três salários mínimos. Esta faixa é de consumo reduzido, fundado em cesta que tem como
principais itens alimentos e transporte.
Muitos alimentos essenciais, de grande peso no consumo mensal, têm insumos importados. O pão, o macarrão, as
bolachas terão custos aumentados com
a alta do dólar. Dois terços do trigo usado nesses produtos é importado. O gás
para cozinhar também entra na lista,
pois derivados de petróleo sofrem influência de preços internacionais na formação de seu preço nacional. Pelo mesmo motivo, o transporte coletivo pode
sofrer aumentos. E a faixa dos que ganham até três salários mínimos, por ser
pouco especializada, tem dificuldade
em ver seus salários reajustados para
manter o poder de compra.
Não venham com armadilhas centradas
em falsos becos sem saída. Temos pela frente
largas avenidas
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Para reduzir pressões especulativas, é
importante aumentar o grau de auto-suficiência. Para fazer isso é importante
ter cautela. O preço da auto-suficiência
não pode ser a criação de nichos econômicos cartoriais. A produção nacional
deve visar metas de competitividade internacional. Para tanto é indispensável a
eficiência operacional e investimentos
em processos industriais modernos.
Sem esquecer também que um grande
trunfo é o fortalecimento do mercado
interno. Meta indissoluvelmente ligada
à melhoria dos indicadores de distribuição de renda e ao atendimento prioritário de políticas públicas que valorizem
educação, saúde e emprego.
A auto-estima é nosso maior ativo.
Não podemos viver manietados pelo
medo e por crises artificialmente criadas. Alimentar ambos é dar munição a
quem nos quer abater. O egoísmo e
agressões despropositadas municiam
os que apostam não em um país com
172 milhões de habitantes, 8,5 milhões
de quilômetros quadrados, 8.000 km de
costas oceânicas, rios com enorme potencial energético e incalculáveis reservas minerais, mas nos que preferem
vender o derrotismo e semear o desencanto para colher lucros fáceis.
Precisamos alongar a coluna dorsal da
nacionalidade. Não venham com armadilhas centradas em falsos becos sem
saída. Temos pela frente largas avenidas. Meu voto, meu empenho é pelo
"Brasil sempre". Estou na trincheira da
defesa de meio milênio de história para
garantirmos um futuro digno às novas
gerações de brasileiros.
Jaime Lerner, 64, arquiteto e planejador urbano, é governador do Paraná, pelo PFL. Foi prefeito de
Curitiba por três gestões (1971-75, 1979-83,
1989-92).
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