São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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SERGIO COSTA

Primos entre si

RIO DE JANEIRO - FHC ganhou duas eleições de Lula. Lula venceu uma contra candidato apadrinhado por FHC. Os dois vão para o quarto confronto, ainda que indiretamente. FHC deu a senha na semana passada para esquentar a campanha: "É fogo no palheiro!". Lula soltou fogos para a barulhenta entrada em cena do ex-presidente.
Mesmo depois de anos no ringue, FHC e Lula parecem nutrir algum tipo de inveja um do outro. Deve haver explicação para esse jogo de atração e rejeição cíclico e mútuo. Não foi à toa que os dois ficaram meio enrolados na passagem da faixa presidencial em 2003. Um desajeito só. Entre uma eleição e outra, sempre trocam farpas. Mas a temperatura aumenta a cada quatro anos, quando são eles que representam pólos políticos opostos.
Com os três anos e meio do petista no poder, os dois têm pela primeira vez a chance de comparar seus governos, seus PIBs, quem criou mais empregos ou como consumiram as famílias sob gestão de cada um. Por 12 anos, a dupla ditou as regras e o ritmo das coisas por aqui. Afinal, se o país está como está, são eles os maiores responsáveis.
Mas por uma estranha compulsão preferiram, de alguma forma, sair no tapa outra vez. Os tucanos ressuscitam fantasmas recentes para assombrar os petistas -Delúbio, Silvinho Land Rover, Dirceu, Valério, dólares na cueca, o mensalão. Do lado de Lula, espana-se a poeira de esqueletos da era FHC, marcada por privatizações chamadas de privatarias. Mais do que seus PIBs, vão comparar os estragos.
Um vai tentar mostrar que o outro vendeu o país barato, quase de graça, entregando anéis e dedos. O outro, que os amigos do um assaltaram a máquina do Estado, lambuzando-se no poder como novos-ricos. Lembram dois primos de um antigo programa humorístico do rádio e da TV. Só que ninguém ri.


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