São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Disputa acirrada

Acirramento da concorrência entre as instituições bancárias reduz os juros e aumenta o volume de crédito

O VOLUME das operações de crédito do sistema financeiro nacional voltou a expandir-se em julho. Isso representou a continuidade de um movimento de alta que se prolonga há bastante tempo: desde dezembro de 2003 não se observa recuo do volume real do crédito na comparação com igual mês do ano anterior.
Tendo crescido 1,7% de junho para julho, o volume total de crédito chegou a R$ 813,4 bilhões, expressivos 21,5% a mais do que em julho de 2006. Sua expansão tem sido impulsionada sobretudo pelas operações de crédito livre -aquelas que têm taxas de juros livremente pactuadas entre os agentes envolvidos. Essas operações cresceram 25,1% nos últimos 12 meses.
As famílias, em particular, continuam a ampliar seu endividamento, destinando os recursos sobretudo à aquisição de bens de consumo. Os empréstimos para pessoas físicas cresceram 28% desde julho do ano passado. Com isso, o estoque de crédito assumido pelas pessoas físicas chegou a R$ 279 bilhões.
A despeito de ainda muito elevadas, as taxas de juros cobradas nas operações continuaram a ceder em julho. Desde janeiro de 2006 a taxa média caiu mais de dez pontos percentuais, de 46,1% para 35,9% ao ano. Além dos cortes da taxa Selic, esse recuo está associado ao acirramento da concorrência entre as instituições. A disputa por clientes tem redundado em redução dos "spreads" bancários (ou seja, da diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e os juros que cobram ao emprestar tais recursos).
A recente onda de turbulência financeira já perturbou, no entanto, o quadro de melhora progressiva das condições de crédito. Na primeira quinzena de agosto, o aumento da incerteza levou a uma elevação do custo de captação dos bancos. Ainda assim, as taxas cobradas dos tomadores de crédito mantiveram-se, em média, estáveis. Mais um sinal de acirramento da concorrência: as instituições aceitaram reduzir novamente seu "spread" para não perder clientes.
Ainda é cedo para avaliar se a crise internacional poderá se aprofundar a ponto de provocar uma elevação do custo do crédito ao consumidor e uma redução nos prazos dos financiamentos. Seria lamentável, pois o país ainda tem muito a avançar no campo do acesso ao crédito.
A despeito do dinamismo recente, o volume total de crédito no país -32,7% do PIB- ainda é baixo. No Chile, por exemplo, essa proporção é da ordem de 70%.
Um dos entraves reside no fato de que uma grande parcela dos recursos captados pelos bancos tem de ser recolhida ao Banco Central, não podendo ser dirigida ao crédito. Em julho, as instituições financeiras foram obrigadas a manter no Banco Central R$ 182,6 bilhões, sendo R$ 140,5 bilhões sem remuneração. Uma redução escalonada dessas restrições favoreceria um recuo persistente do custo do crédito, estimulando o aumento do seu volume e o crescimento da economia e do emprego.


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