|
Próximo Texto | Índice
Disputa acirrada
Acirramento da concorrência entre as instituições bancárias reduz os juros e aumenta o volume de crédito
O VOLUME das operações de
crédito do sistema financeiro nacional voltou a expandir-se em julho. Isso representou a continuidade de um movimento de alta que se prolonga há bastante tempo: desde
dezembro de 2003 não se observa recuo do volume real do crédito na comparação com igual mês
do ano anterior.
Tendo crescido 1,7% de junho
para julho, o volume total de crédito chegou a R$ 813,4 bilhões,
expressivos 21,5% a mais do que
em julho de 2006. Sua expansão
tem sido impulsionada sobretudo pelas operações de crédito livre -aquelas que têm taxas de
juros livremente pactuadas entre os agentes envolvidos. Essas
operações cresceram 25,1% nos
últimos 12 meses.
As famílias, em particular, continuam a ampliar seu endividamento, destinando os recursos
sobretudo à aquisição de bens de
consumo. Os empréstimos para
pessoas físicas cresceram 28%
desde julho do ano passado. Com
isso, o estoque de crédito assumido pelas pessoas físicas chegou a R$ 279 bilhões.
A despeito de ainda muito elevadas, as taxas de juros cobradas
nas operações continuaram a ceder em julho. Desde janeiro de
2006 a taxa média caiu mais de
dez pontos percentuais, de 46,1%
para 35,9% ao ano. Além dos cortes da taxa Selic, esse recuo está
associado ao acirramento da
concorrência entre as instituições. A disputa por clientes tem
redundado em redução dos
"spreads" bancários (ou seja, da
diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e os
juros que cobram ao emprestar
tais recursos).
A recente onda de turbulência
financeira já perturbou, no entanto, o quadro de melhora progressiva das condições de crédito. Na primeira quinzena de
agosto, o aumento da incerteza
levou a uma elevação do custo de
captação dos bancos. Ainda assim, as taxas cobradas dos tomadores de crédito mantiveram-se,
em média, estáveis. Mais um sinal de acirramento da concorrência: as instituições aceitaram
reduzir novamente seu "spread"
para não perder clientes.
Ainda é cedo para avaliar se a
crise internacional poderá se
aprofundar a ponto de provocar
uma elevação do custo do crédito
ao consumidor e uma redução
nos prazos dos financiamentos.
Seria lamentável, pois o país ainda tem muito a avançar no campo do acesso ao crédito.
A despeito do dinamismo recente, o volume total de crédito
no país -32,7% do PIB- ainda é
baixo. No Chile, por exemplo, essa proporção é da ordem de 70%.
Um dos entraves reside no fato
de que uma grande parcela dos
recursos captados pelos bancos
tem de ser recolhida ao Banco
Central, não podendo ser dirigida ao crédito. Em julho, as instituições financeiras foram obrigadas a manter no Banco Central
R$ 182,6 bilhões, sendo R$ 140,5
bilhões sem remuneração. Uma
redução escalonada dessas restrições favoreceria um recuo
persistente do custo do crédito,
estimulando o aumento do seu
volume e o crescimento da economia e do emprego.
Próximo Texto: Editoriais: O erro dos procuradores Índice
|