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IGOR GIELOW
Jobim e os generais
BRASÍLIA - Nelson Jobim é hoje o
mais curioso integrante dessa federação heterogênea de interesses e
qualidades chamada governo Lula.
É chamado de tucano por petistas,
de adesista por alguns tucanos e de
quinta-coluna por outros.
O ministro se porta como um Nicolas Sarkozy de Santa Maria. Com
a carta branca que a inação de Lula
sobre a crise aérea acabou lhe facultando, Jobim age no ritmo do hiperativo presidente francês, e levanta iguais dúvidas sobre os limites entre discurso e substância.
Até aqui, é só desenvoltura. Em
menos de um mês, implodiu a Anac,
obteve os trocados que os militares
pediam, inspecionou até bebedor
de aeroporto e deu palpite sobre
poltrona de avião. De quebra, arrumou tempo para emplacar um indicado no Supremo, espezinhar o rival Tarso Genro e visitar o enrolado
amigo Renan Calheiros.
Para os militares, Jobim era uma
expectativa. Agora, é uma ambígua
realidade. Arrumou um aumento
de 54% para sua pasta na mesma semana em que se meteu num vespeiro historicamente interessante,
mas cujo retrospecto não é favorável a quem está em seu lugar.
Jobim falou grosso sobre eventuais críticas ao livro do governo em
que a ditadura é acusada de crueldades. Após vazar sua insatisfação,
o Exército divulgou na sexta uma
nota que, se indicar só 10% da raiva
do generalato, já garante a Jobim
inimizades perenes.
Ontem, Jobim contemporizou
antes de ir ao Haiti elogiar os fardados. Esperem fotos e discursos. No
fundo, talvez o ministro conte com
as amizades que as verbas asseguram. Mas dinheiro acaba mais rápido que ressentimento, e o tom
"Exército de Caxias" do texto é eloqüente. Jobim vai ter trabalho.
Lula pede solidariedade a mensaleiros e diz que pode haver alguém
com moral igual, mas não superior,
aos petistas. Dante estava certo: no
inferno, o teto é o chão.
igielow@folhasp.com.br
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