São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALBA ZALUAR

Fazer a cidadania

UM DOS MAIORES problemas a serem enfrentados no Brasil de hoje continua sendo o escasso conhecimento tanto do comportamento das taxas de criminalidade ou de atos violentos jamais registrados, quanto das reações dos diferentes setores da população à percepção generalizada de uma escalada da violência, apesar da crescente literatura jornalística e sociológica sobre o tema.
Em outras palavras, o quadro gravíssimo de crescimento da violência no país indica a necessidade de conhecer melhor o que pensa a população sobre a cidadania e, portanto, a civilidade, a tolerância, o respeito ao outro -virtudes democráticas que precisam ser cultivadas para que a convivência resulte no diálogo e no entendimento, apesar das diferenças.
Onde as imagens da cidade como um ambiente violento e inseguro detonam fortes sentimentos de medo e insegurança, não mais associadas à utopia liberal da liberdade, é preciso recuperar a importância das velhas virtudes cívicas -civilidade, tato, respeito, cooperação e confiança. Cada uma destas contém direitos do indivíduo e responsabilidades para com os outros.
As mudanças não são naturais nem há um desenvolvimento necessário e inescapável da cidadania em uma direção única. As mudanças são sociais e históricas, com retrocessos, incongruências, falhas e polifonias. Impossível imaginar, portanto, uma seqüência única, determinista, mecânica e necessária para a evolução da cidadania em todas as classes sociais, cidades e regiões do país.
Porém, é bem conhecido o processo de evolução histórica que fez surgir os direitos e deveres da moderna cidadania não mais consuetudinários nem tácitos, mas garantidos pelo Estado de Direito.
0s direitos fundamentais, porque foram os primeiros feitos -o direito à vida, ao ir e vir, à segurança, à liberdade religiosa e de pensamento, à defesa em ação judicial-, ainda estão longe de serem garantidos nos países onde o desenvolvimento institucional apresenta tantas brechas e lacunas.
Onde já vicejam, foram introjetados nos sujeitos pela experiência com os agentes do sistema de justiça, pela convivência direta com membros das classes superiores que, por isso, tornaram-se elites, mas principalmente pelo aprendizado difuso e universal por todas as agências de educação, parte fundamental de um projeto de nação.
Todas as crianças e jovens deste país, de todas as classes, religiões e etnias, deveriam estar aprendendo nas escolas e onde mais fosse possível essas virtudes que se tornam instrumentos valiosos para a convivência em sociedades plurais e desiguais.


ALBA ZALUAR 0escreve às segundas-feiras nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Expulsos da língua
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.