|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALBA ZALUAR
Fazer a
cidadania
UM DOS MAIORES problemas a serem enfrentados no
Brasil de hoje continua sendo o escasso conhecimento tanto
do comportamento das taxas de
criminalidade ou de atos violentos
jamais registrados, quanto das reações dos diferentes setores da população à percepção generalizada
de uma escalada da violência, apesar da crescente literatura jornalística e sociológica sobre o tema.
Em outras palavras, o quadro
gravíssimo de crescimento da violência no país indica a necessidade
de conhecer melhor o que pensa a
população sobre a cidadania e, portanto, a civilidade, a tolerância, o
respeito ao outro -virtudes democráticas que precisam ser cultivadas para que a convivência resulte
no diálogo e no entendimento, apesar das diferenças.
Onde as imagens da cidade como
um ambiente violento e inseguro
detonam fortes sentimentos de
medo e insegurança, não mais associadas à utopia liberal da liberdade, é preciso recuperar a importância das velhas virtudes cívicas -civilidade, tato, respeito, cooperação
e confiança. Cada uma destas contém direitos do indivíduo e responsabilidades para com os outros.
As mudanças não são naturais
nem há um desenvolvimento necessário e inescapável da cidadania
em uma direção única. As mudanças são sociais e históricas, com retrocessos, incongruências, falhas e
polifonias. Impossível imaginar,
portanto, uma seqüência única, determinista, mecânica e necessária
para a evolução da cidadania em
todas as classes sociais, cidades e
regiões do país.
Porém, é bem conhecido o processo de evolução histórica que fez
surgir os direitos e deveres da moderna cidadania não mais consuetudinários nem tácitos, mas garantidos pelo Estado de Direito.
0s direitos fundamentais, porque foram os primeiros feitos -o
direito à vida, ao ir e vir, à segurança, à liberdade religiosa e de pensamento, à defesa em ação judicial-, ainda estão longe de serem garantidos nos países onde o desenvolvimento institucional apresenta tantas brechas e lacunas.
Onde já vicejam, foram introjetados nos sujeitos pela experiência
com os agentes do sistema de justiça, pela convivência direta com
membros das classes superiores
que, por isso, tornaram-se elites,
mas principalmente pelo aprendizado difuso e universal por todas as
agências de educação, parte fundamental de um projeto de nação.
Todas as crianças e jovens deste
país, de todas as classes, religiões e
etnias, deveriam estar aprendendo
nas escolas e onde mais fosse possível essas virtudes que se tornam
instrumentos valiosos para a convivência em sociedades plurais e
desiguais.
ALBA ZALUAR 0escreve às segundas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Expulsos da língua Próximo Texto: Frases
Índice
|